segunda-feira, 11 de julho de 2011

UM SÉCULO DE EROTISMO

Ela carregou nas costas um dos mais rentáveis centenário da comunicação brasileira e ninguém se lembrou de escrever uma única linha em reconhecimento. Pelo menos, para louvr o grande número de empregos garantidos por ela.

Estamos falando do surgimento do erotismo nos meios de comunicação do País. Isso mesmo, e aconteceu em 1998.
Tudo começou em 1898, época em que as mulheres se cobriam, do pescoço ao tornozelo.Virgindade era artigo abundante na sociedade da época e sexo artigo raro para as damas de fino trato, permitido apenas depois do casamento.
Foi na vigência daquela era de repressão sexual que os cariocs passaram a conviver com o Rio Nu, um periódico pioneiro da imprensa erótica brasileira. Para garantir o sucesso do semanário, que circulou até 1916 e chegou a ter edições extras às quartas-feiras, mulheres eram expostas em suas páginas, em trajes sumários (para a época) e poses insinuantes. Além disso, despiam os apertados espartilhos, diziam frases insinuantes e ainda se mostravam dispostas a caírem na horizontal. Só mesmo uma publicação erótica masculina, que escondia os nomes dos seus redatores, poderia fazer aquilo ? fim de mundo para os conservadores.
Surgia, então, um leque de projeções que a mulher passava a proporcionava à mão-de-obra carioca. Depois de empregar jornalistas, gerou publicidade. Afinal, a primeira publicação erótica nacional despertava tanta curiosidade que os comerciantes viram nas suas páginas a melhor das caixas registradoras. Era uma forma de garantir potência plena e inacabável, pois qualquer remédio contra a disfunção erétil terminava na boca do cofre ? vê-se que a prática do BO (bom part otário) já vem de longe.
E não ficou por aquela malandragem. Povoando a imaginação do carioca, a mulher que freqüentava as páginas do Rio Nuencheu também os bolsos dos produtores de licores eróticos, bons anunciantes. Sem falar que garantiu ainda emprego para fotógrafos, que passaram a sair à caça de belas atrizes do teatro de revistas para serem admiradas pelos leitores. Mas, num espaço de 18 anos, entre um final e começo de milênio, para a mulher proporcionar o aumento do número de empregos ao homem, principal beneficiário da liberalização do sexo na imprensa, o caminho foi lento.
Pode-se dizer que o pioneiro do erotismo literário brasileiro foi o escrivão Pero Vaz de Caminha. No seu relato ao rei Dom Manuel, após Pedro Álvares Cabral descobrir o Brasil (oficialmente), ele contou ao "Venturoso" que as mulheres por aqui tinham "vergonhas cerradinhas" e não se envegonhavam dos olhares indiscretos.
Escancaradamente, o erotismo feminino na imprensa brasileira só explodiu a partir do início da década de 1970, quando a revista Ele e Ela, da Editora Bloch, publicou a foto do nosso primeiro nu frontal. Na década anterior, as puyblicações eróticas de circulação nacional, como a Status, não se atreviam a tanto. No máximo, alavancavam as suas vendas exibindo mulheres lindas com roupas sumárias, nas suas capas, ou exibindo os seios nas páginas internas.
O caminho aberto pela mulher que teve a coragem de mostrar as suas vergonhas em Ele e Elasignificou a geração de centenas de empregos ? maqiuiadores, cabelereiros, diagramadores, fotógrafos, modelos, etc ?). O sucesso foi tão significativo que, nove meses depois, nasceram outras 15 revistas eróticas no País, com circulação entre 20 a 40 mil exemplares. Par que aquilo tudo acontecesse, foi preciso que o sisudo regime militar brasileiro se tornasse mais maleável na censura às artes e aos espetáculos ? durante o governo do presidente Ernesto Geisel, os editores das revistas eróticas eram obrigados a cortar ou retocar seios, regiões pubianas e calcinhas.

(sub-título)
NA ERA DO CINEMA PORNÔ


Quando as artes e os espetáculos encontraram o governo militar brasileiro mais maleável e conseguiram liberalizar a anatomia feminina junto à censura que, freqüentemente, mandava apreender livros, a mulher foi a máquina propulsora de uma indústria que proliferou-se pela década-70, a do cinema pornô.
Indiferente à postura política da nova mulher brasileira, que já incluía idéias libertárias espalhadas pela juventude francesa, desde maio de 1968, os presidentes-generais, Garastazu Médici e Ernesto Geisel, "resguardando a segurança nacional", viram que estava diante de um grande momento para impedir o Brasil de assistir filmes politizados. Naquele novo momento, a mulher não se demorava nas sexy-cenas de cama e nem mostrava as suas "vergonhas frontais". Deixava, no entanto, a imaginação a mil.
A década-70 foi um tempo fértil para o nascimento de mitos femininos, que representaram investimento seguro em suas imagens. Foi assim com Leila Diniz, Adriana Prieto (as pioneiras), Vera Fischer, Alcione Mazzeo, Matilde Mastrangi, Adele Fátima, Helena Ramos, Simone Carvalho, Lady Francisco e Claudete Joubert, só para citar poucas.
Por meio das pornochancadas, que foram classificadas, inicialmente, de "comédias de costumes", as ofereceram trabalhos para muitos diretores ? entre eles, José Miziara, J. Marreco, Toni Vieira, Cláudio Cunha, Sílvio de Abreu, Adriano Stuart, Carlos Imperial, Cláudio MacDowell e Pedro Rovai ? e atores como Nuno Leal Maia, Antônio Fagundes e Mário Gomes. Filmes como "A Superfêmea", "Anjo Loiro", "A Viúva Virgem" e "O Bem Dotado: O Homem de Itu", lotaram salas de cinema pelo País afora.
Dirigido por Carlos Rovai, "A Viúva Virgem" levou seis milhões de espectadores aos cinemas, mas estima-se que o público total possa ter chegado aos 15 milhões, pois não havia registros confiáveis pelo interior brasileiro. A película, que garantiu o emprego de bilheteiros porteiros e maquinistas, chegou a bater a bilheteria do norte-americano "Golpe de Mestre", ganhador do Oscar de 1972 ? outro filme de Carlos Rovai, "Ainda agarro esta vizinha", chegou a representar o Brasil no Festival de Cinema de Cannes, na França em 1975.

(suib-título) O SENTIDO DAS COISAS

Foram duas mulheres ? Adelaide Carraro e Cassandra Rios ?, as responsáveis pela disseminação da literatura erótica no País. Mas, depois que o filme japonês "Império dos Sentidos (de Nagisa Oshima) foi exibido por aqui sem cortes, contendo cenas de sexo explícito, as publicações das duas escritoras passaram a ser vistas como tímidas. A partir de então os brasileiros se viram diante de uma enxurada de livros sobre sexo, a maioria norte-americanos ? Truque do Travesseiro; Engate e Volteio; Rolo de Macarrão e Arco e Violino foram os mais vendidos.
Tanta literatura sobre sexo no Brasil ? Guia das Carícias: ABC do Amor e A Força do Amor, para citar poucos ? era, realmente, algo impensável, dentro de um execrável regime militar. Podia-se, porém, entender: o cinema pornô estava no auge, e a sexologia contava com a vulgarização da psicanálise. Portanto, já se podia distanciar dos tempos dos livros éticos (quase nenhum técnico) e muito mais das teorias científicas e retrógradas do século XIX, como a apalcação de sangue-sugas nos órgãos genitais das mulheres superexcitáveis.
Na década de 1980, coube à atriz Regina Duarte dar mais um grito de liberalização às mulheres. No seriado "Malu Mulher", da TV Globo, sua personagem mantinha relações íntimas com uma amiga e, num outro episódio, encenava um orgasmo. E, por falar em orgasmo, desde a época dos sixty que Virgina Johnson, em parceria com o marido, William Master, havia concluído que a mulher poderia ter orgasmos múltiplos. O fato, porém, é que há mais de um século a mulher vem fornecendo orgasmos mentais ao homem.

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