segunda-feira, 11 de julho de 2011

ENTREVISTA/ MINISTRA MARIA ELIZABETH ROCHA

Em 200 anos de história, a ministra Maria Elizabeth Rocha é a primeria e única mulher no País a chegar ao Superior Tribunal Militar (STM). Nomeada, pelo presidente Luís Inácio Lula da Silva, em 8 de março de 2007, dia internacional da mulher, e empossada 19 dias depois, ela defende os movimentos femininos cobra mais espaço para os direitos da mulher na constituição brasileira. Por sinal, aproveitando a passagem dos 20 anos da Carta Cidadã, que ainda se comemoram, com programações alusivas ao 5 de outubro de 1988, a ministra Maria Elizabeth aproveita esta entrevista para analisar o documento, afinal ela é professora de Drieito Constitucional em uma das universidades de Brasília e PhD no assunto.
JBr - A senhora tinha alguma ligação política antes de chegar ao STM?
R - Já fui militante de esquerda, servi ao PT (Partido dos Trabalhadores), como advogada.

Por vedação constituconal, hoje, nem tem mais como pensar nisso...

Sim. Agora, é só levar contribuição ao STM, pela minha experiência com o direito constitucional, atualizando os conteúdos normativos, pois o Código Penal Militar e o Código de Proceso Penal Militar estão desatualizados perante a nova constituição. São de 1969, editados em um regime que não vigora mais.

A senhora imputa ao ministro José Antônio Dias Toffoli o empurrão para chegar ao circuito do Palácio do Planalto. Houve ajuda da lidrança do PT, da qual a senhora foi advogada, para chegar ao STM?

Não é falsa modéstia, mas imputo a minha indicação ao meu currículo. Sou mestra (pela Universidade Católica de Lisboa), com distinção, e doutora (pela Universidade Federal de Minas Gerais), com louvor, além de aprovada, em primeir lugar, no concurso que me levou à Procuradoria Federal. Estudei, me preparei muito. Sou professora universitária, desde os meus 23 anos de idade. Reconheço, além do ministro Dias Toffoli, a mão amiga do ministro Gilberto Carvalho.

JBr – A Constituição Cidadã chega aos 20 anos com dezenas de itens não regulamentados...

R – Isso, talvez, seja a parte mais dolorosa da carta de 1988, porque ela consagrou princípios que, antes, jamais haviam sido tratados, casos, por exmeplo, dos direitos sociais dos trabalhadores. Issio é uma grande conquista, uma festa da democacia. Mas é lamentável não ter muitos deles regulamentados. Os poderes da República não atribuem essa responsabilidade só ao Legislativo. A sociedade pode apresentar projetos de lei de inciativa popular. Poderia haver uma mobilização neste sentido. Este é o grande problema. Porém, 20 não ao são nada em termos de história. Temos muit tempo pela frente para aperfeiçoar a democracia, que é um processo em construção. Sou otimista em relaçã ao futuro da Nação.

Há parlamentar que vê irresponsbilidade no Congresso Nacional, por não regulamentar, logo, o que a sociedade espera. O termo “irresponsasbilidade” está bem ou mal colocado?

Não chamo o Congresso de irerresponsável, porque ele não trabalha em tempo real. É nescessário um período de maturação para se elaborar um projeto-de-lei e este passsar pelas comissões e o plenário. Acho, sim, que a sociedade devria mobilizar-se, pois o Congresso é uma caixa de ressonância dos anseios populares, a garantia de sanidade das sociedades bem ordenadas. A sociedade poderia organizar-se e pressionar os institutos de representação popular, não só os parlamentares, mas, também, o Executivo e o Judiciário. O Legislativo faz a sua parte, mas quem quem interpreta as leis são os magistrados. Muitas vezes, esta, ao ganhar vida própria, passa a ser interpretada totalmente diferente do que se buscava. É preciso, realmente, que haja mobilização.

Que comportamento que a senhora observa, da parte do cidadão que caminha, há 20 anos, com uma “carta no bolso”?

Uma apatia muito grande do cidadão comum, com relação à política, e um descrédito desta. Isso é terrível, mina as expectativas de implementação de melhora da sociedade civil.

O que mais lhe encanta no direito constitucional basileiro?

Os direitos e garantias fundamentais. Não me refiro só aos de primeira dimensão, os individuais, mas a todas as conquistas alcançadas. Aplaudo a luta por um meio ambiente saudável, a preservação das reservas naturais para garantir a subsistência das futuras gerações e, também, a presevação do patrimômio histórico e artístico. Nacional. Isso é o que mais me inspira na noss constituição.

Se a senhora fosse uma parlamentar, hoje, e estivesse regulamentando o que falta à carta de 88, que iten lhe mereceria prioridade?

Os direitos das mulheres. Apoio os movimentos femininos e vejo muitos conquistas esperando por implementação, reforço. Falo em direitos da mulher, mas incluo o das minorias, em geral, segmentos como os homoxessuais, os afro-descententes, que são estigmatizados, historicamente, de uma maior participação na sociedade. Dos três pilares – liberdade, igualdade e fraternidade –, que consagraram a Revolução Francesa (1789), ainda nos falta a implementação do terceiro caso. É colocando-se no lugar do discriminado que se sente o peso da segregação, da indiferença, da exclusão.

Dentro desse iten, daria para particulariz algo?

A violência contra a mulher, os quilombos, as cotas para os negros na universidades, há várias questões merecendo cuidados.

A Secretria de Políticas Especiais para a Mulher, criada pelo Govero Lula, é suficiente, ou, seria mais forte um ministério para ela?

Já temos políticas afirmativas sendo implementadas. Vejo sensibilidade no governo, de perceber a importância de dar um foco distinto a segmentos populacionais histórica e socialmente discriminados.

A senhora considera a vintenária constuição brasileria inteiramente bem situada dentro do tempo atual?

A vejo muito mais vanguardista. Talvez, ela não possa atender a todas as demandas sociais previstas, mas aspira um ideal de nacionalistmo muito grande. Reafirmo o meu aplauso ao sentido de implementar a igualdade entre homem e mulher, de conferir as garatias constitucionais que faltavam as minorais e, ainda, de dar ao analfabeto do direito de participar da vida poltica do País.

Quando esse iten foi levado para a discussão constitucional, setores conservadores da sociedade viram-no como eleitoreiro...

Eu acho absimante pensar que só em 1988 o País tenha incluído, socialmente, uma grandiosa parte do seu cidadão. Por isso, vejo vanguardismo nessa nossa carta. Creio que ela cehga até mesmo a intimidar governantes pela inspirações progamáticas que encerra em seu texto.

Como professsora de direito constitcuional comparado, a senhora, então, vê a nossa carta como uma das melhores e mais bem feitas do mundo...

Sim. Estudo as constituições do mundo inteiro e a vejo como modelo para qualquer País.

Com anda a relação entre a constiuição e a juventude?

Não tenho dúvidas de que é preciso mais divulgação junto ao jovem. Aliás, não só neste sentido, mas, também, junto cidadão comum. É primordial saber que a conscienização da cidadania passa pelo conhecimento dos direitos e garantias individuais, bem como das suas obrigações perante o Estado. É uma relação de troca, um ideal de nacionalidade para nos tonarmos uma grande nação.

É excessivo o número de itens na nossa constituição?

Não posso negar que ela seja uma carta prolixa, mas todos os textos contemorâneos o são. O grande exemplo de constituição sintética é o dos Estados Unidos, aidna é do século 18. Textos prolixos são característicos de cartas programáticas, garantistas, que incorporam programas de Estado. É impossível fugir disso.

A proteção ao meio ambiente foi uma novidade dotexto vintenário. Demoramos muito nesse sentido?

Realmente, entre a nossa prmeira constituição, a imperial, de 1824, até se chegar a esta, ainda não se havia incidido sobre a questão, que já faz parte de muitos outros textos nacionais, como os dos vizinhos Paraguai e Uruguai. Garantir um meio ambiente saudável é dar sobrevivência a futuras gerações e a todo o planeta, já que o desmatamento da Amazônia, por exemplo, vai se refletir no mundo inteiro. Porém, esta é uma questão de soberania basileira, que tem que ser tratada pelo nosso governo.

Quando a constituinte ganhava forma, havia parlamentares saudosos da carta de 1946...

Esta teve pouca duração, porque o país assistiu ao golpe miliar de 1964, que a emendou por quatro atos institucionais. Aliás, a história constitucional brasileira sempre oscilu em ciclos de normalidade e autoritarismos. O texto de 1824 foi outorgado pelo Império; o de 1891 saiu de uma assembléia constituinte, mas não foi um exemplo de constituição democratica, porque a primeira república frustrou os seus objetivos, e a 1934 foi outra com pouca duração, devido ao golpe do Estado Novo, dado por Getúlio Vargas, em 37. A de 1988 faz uma síntese das duas grandes cartas, de 1934 e 46. Em termos democráticos, é a de maior duração na nossa história. Eu acho a Constituição Cidadã muito melhor pporque reflete toda as nossas experiências constitucionais com as rupturas do regime.

A constituinte convocada pelo presidente José Sarney levou quase dois anos trabalhando o texto de 88. Tanto tempo pode ser visto como falta de maturidade parlamentar e de responsabilidade popular?

Para uma constituição ficar bem feita, como a nossa, não importa se ele sai com vagar. Não se pode fazer isso no atropelo. Afinal, o que se elabora é o contrato social que vai reger a nação. É preciso haver acomodação de interesses, de expectativas, de esperaças. Gastou-se o tempo que deveria ter gasto. Não a produzimos em tempo muito longo e nem muito curto. É preciso cuidado para o texto não se conviver com texto periódico, reformado, substituível, revogadao, outorgado, promulgados. Isso já aconteceu conosco e na maioria dos países latino-americanos. A idéia de uma constituição é que ela seja perene, e estabelecer todas as cláusulas do pacto social não é fácil.

A carta de 1988 já foi modificada...

Sim, já são 56 emendas, e espero que fique por aí. Acho que não precisaria haver tantas mudanças. O Judiciário poderia se incumbir da intepretação, renovação dos conteúdos constitucionais. De uma certa maneiria, as cartas se desatualizam com a modrnidade galopante. Veja o caso do biodireito. Quando este texto foi promulgado, em 1988, ainda não se pensava nisso. Da mesma forma, não havia os crimes cibernéticos. Há uma série de novidades que a modernidade apresenta e se tornam impossíveis de o legislador acompanhar. Cabe, principalmente, ao Supremo Tribunal Federal (STF) fazer o seu papel, como interprete. Uma lei quando é editada, já começa a cair no vazio da história.

Quais modificações a senhora não gostaria de ter visto feitas?
A taxação dos inativos pela Previdência, por exemplo. Embora o STF tenha decidido de forma contrário, a minha postura, como professora de Direito Constitucional, é ver ferido o direito adquirido, o ato jurídico perfeito. Para mim, esta emenda foi frustrante.

A constituição dá ao parlamento o poder de polícia, de determinar prisões, durante uma CPI. Isso não é um traço de autoritarismo?

Não ocorrem prisões arbitrárias, mas dentro de determinadas circunstâncias. Por exemplo, se o depoente se recusa a prestar informações. No nosso sistema de separação de podres há e freios e contrapesos para controlar eventuais abusos que um outro possa cometer. Para isso, existe o Judiciário para fazer análise prévia, conceder hábeas corpus preventivo, pois ninguém é obrigado a depor e criar provas contra si. Há emcanismos eu garnte o dieito individual, mas, também, protegem o interesse da sociedade. As comissões parlametnares de inquéritos (CPI) agem contra os abusos cometidos contra a sociedade.

AS BELAS DOS CLASSIFICADOS

No início, os comerciantes da idade média criaram as gazetas, para noticiar o comércio. O tempo foi passando e surgiram os classificados, para vender coisas. Hoje, eles vendem até amor. Se não anunciam propaganda enganosa, nunca foi tão fácil amar deusas, musas ou sereias. Elas são um lindo sonho delirante.
São loiras, ruivas, morenas, índias, orientais, brasileiríssimas. Todas lindas, liberais, carinhosas, cheirosas, deliciosas, tesudas, sensuais. Em comum, só o fato de serem diabinhas de inferninhos que dão garantia de prazer intenso a quem só pensa "naquilo".
Danadinhas, elas se revelam por inteiro no fogo intenso do que for tratado, mas recolhem-se, intransponívis, no íntimo de suas identidades. Vão à guerra como Alines, Camilas, Cláudias, Fabíolas, Isabelas, Marianas, Renatas e Valérias, entre outras graças que, também, incluem Karens, Kiaras, Natashas, Monikes, estrangeirismos que impressionam os ouvidos tupiniquins.
O negócio delas é o prazer, mas, sem querer, essas meninas de vida facilitada pelo celular, a internet, o táxi e o motel com ar condicionado criaram uma literatura que faz o substantivo ter ciúme do prestígio do adjetivo, além de deixar a gramática pasma da sensualidade conferida à metonímia. Querem um exemplo? Com certeza, Amanda, 18 aninhos, "princesinha dos seus sonhia mais eróticos, cabelos longos, na cintura", não estava nem aí para o sentido figurado que a sua professora primária lhe ensinou e que ela, com certeza, nem se lembrou, quando anunciou ter uma "boquinha mágica, bem gulosa". Gulosa de quê? Amanda não precisa explicar. Mais explícito do que essa figuração só a metonímia que ela usou para avisar aos leitores dos classificados dos jornais que tem um "bumbum delicioso".
As vezes, uma superdiscreta princesinha esquece que vive num país onde a discriminação epidérmica é crime e anuncia-se como "branquinha". Perdoável só por quem adora as letras daquelas músicas com cheiro de motel, afinal a gata complementa o preconceito dizendo que "...adora beijos...vou dar tudo o que você quiser, sem frescura". Também, há casos em que elas parecem bairristas: "Mineirinha linda... Linda goianinha... Loira gaúcha". De repente, nem sejam, queiram, apenas, acarinhar o torrão natal.
Tem delas que, quando se definem, mostram-se saídas de velhas histórias gregas, como uma deusa "arrazando corações, em 1,70 m de pura safadeza, curvas divinas, bumbum lindo, tesuda da cabeça aos pés, totalmente liberal, híper carinhosa, a amante mais do que perfeita". Dá pra resistir? "Venha realizar as suas mais loucas fantasias...", oferece Aline, de 21 anos. Mas, se nesta matéria pode entrar deusa grega, então, pode pintar também uma "sereia superbronzeada. Belíssima!" Adria Gaúcha, a loira de cabelos longos, vai mais fundo ainda, deixando todos curiosos. "Tenho algo grande. Quer saber? Ligue e pergunte o que é", autoriza, a prenda, de 1,70 m.
Em tempos de geração saúde, não podia faltar aquela "de corpo malhadinho... pra você que procura uma bela massagem e gostoso relax, completinho". Interessado? Então, confira se Ana Carla, de 19 anos e 1,68m, além do que diz, é, realmente, "linda, carinhosa, sensual", como Ana Luiza que, além de "atraente, sensual e bonita", ainda manda avisar que é educada, meiga, carinhosa e higiênica. E pra matar: "...bronzeada, pernas grossas, bumbum exuberante, ao gosto de senhores que gostam de beijos e carícias". Gostou? Poética, hem!
A esta altura do campeonato você pensaria que só falta pintar uam garota saída das letras da Bossa Nova , não é mesmo? Mas ela existe, sim, e tem nome de cantora do gênero. Anote a cantada de Maysa, de 18 aninhos, 1,60m: "Uma gracinha de morena, gostosas dos pés à cabeça lábios provocantes, corpo excitante, Seios perfeitos, liberal e fogosa. Amante mais do que perfeita, pronta para satisfazer suas vontades". Não é mesmo uma autêntica "Garota de Ipanema do Cerrado?" No tom do Planalto! Confira se os olhos dela são dois lagos não pacíficos.
Agora, prezado, segure esta: se a Playboy pagou aquele quase milhãozinho de dólares para você ver uma deusa da TV, como Deus a criou (nua), ou como o homem a complicou (vestida), gaste infinitamente menos só com um telefonema para Denise (9991-9338). "Exuberante, sósia de Vera Fischer, mulher fina, educada, de bom nível social e cultural. Goiana, loira, elegante, atraente, sensual, lindíssima". Chega, ou quer mais? Mais? Então saiba que ela é a acompanhante perfeita para você deixar os amigos de queixo caído nos eventos onde comparecem executivos e empresários. Denise atende com classe e descrição, prometendo, preferencialmente, aos hóspedes do Setor Hoteleiro Norte/Sul ..."senhores de extremo bom gosto, um raro e inesquecível prazer".
O anúncio acima só não especifica se esta goiana é humana ou biônica, pois ela oferece atendimento vip, 24 horas por dia. Mas, não se preocupa. Se não der para fisgar um clone de Ver Fischer, você tem Isabela, "ex-modelo, 1,78m de pura simpatia. Mulher bonita, clara, 68 quilos bem distribuídos, toda bronzeada..." Fique só sabendo que, pela sua passarela, ela prefere os desfiles dos "senhores executivos e empresários, aos quais promete serví-los com discrição, carinho, qualidade e gostosa massagem relaxante".
Eu telefonei para as "belas dos classificados", mas só uma delas aceitu conversar, assim mesmo não permitindo fotografias, nem a gravação de sua voz. Inclusive, para não ser identificada, pediu para trocar o nome divulgado no jornal pelo de Vânia. O nosso encontro foi marcado por ela para a saída da agência central do Banco do Brasil, no Setor Bancário Sul. Pela descrição da roupa que usaria, de sua cor e altura, não tive como errá-la. Ela era muito mais bonita do que se anunciava. Lembrava aquela atleta de vôlei, a Ana Paula. Educadíssima, perguntou se poderíamos conversar no bar do aeroporto. O carro dela é um Vectra. Vânia, sempre sorridente, é uma dama. Tem 27 anos, mede 1,74m, é morena, tem cabelos longos, dentes perfeitos e fala, fluentemente, o francês. Domina, também, o inglês.
Quando sentamos para conversar, ela sugeriu tomarmos um vinho nacional, para não encarecer muito a conta. E pediu Forestier risling, branco, suave. Então, ela me contou: "Eu cursei até o quarto ano de Administração de Empresas. Trabalhei num banco, porque rompi com a minha família. Os diretores não me deixavam em paz. Eu passava mais tempo sendo cantada do que trabalhando. Um dia, li um livro sobre a "outra". Imaginei-me naquela situação e, quando a minha conta bancária secou e não deu mais para pagar a faculdade, preferi fazer aquele jogo do que me reconciliar com os familiares, que tentavam me passar uma idiosincrasia que, na verdade, era muito mais uma hipocrisia".
Segundo Vânia, a sua tomada de posição aconteceu quando um diretor do banco, um gay, lhe contratou para passar por sua namorada, numa recepção, em São Paulo. "O acordo ficou pelo dobro dos 700 reais que eu ganhava, mensalmente. E, depois daquela, eu topei todas as que pintaram. Ficar ganhando o que eu ganhava seria burrice. Voltei para a faculdade, mas tornei a abandoná-la, faltando seis matérias para concluir o curso. Um executivo francês apaixonou-se por mim e insistiu para eu me casar com ele. Não aceitei o casamento, mas vivi três anos com ele, em Paris. Durou até muito, pois ele era muito ciumento. Tive vários convites para fazer desfiles de modas, fotografias para propagantes em revitas e jornais, mas ele me proibia. Os europeus suspiraram quando pasavam por mim. Pareciam nunca terem visto uma morana. Quando não suportei mais os ciúmes do francês, rompi com o casamento. Voltei há um ano e pouco".
Vânia disse que teve poucas informações sobre o Brasil, durante o tempo em que moru em Paris. Segundo ela, o francês esteve por aqui, três meses depois que ela o abandonou, tentando uma reconciliação, mas ela rejeitou. Ganhou o Vectra, de presente dele, mas nem assim se comoveu. "Eu esperava voltar ao Brasil e terminar a minhja faculdade. Mas encontrei o país com muito desemprego e poucs chances de colocação no mercado. Apareceram oportunidades de trabalho, mas, de forma alguma, eu aceitaria dar o duro o dia inteiro, por 400, 500 reais, conforme foram a propostas que pitnaram. Então, resolvi. Então, resolvi explorar a beleza do meu corpo enquanto eu tiver juventude. Preciso ganhar muito dinheiro para, daqui a uns oito anos, viver outra vida".
Perguntei a Vânia se el anão sentia contrangida de sabr que quase se graduara em Administrção de Empresas e se via colocando anúncio em jornal para negociar o corpo. Sua resposta: "Certa vez, eu e o francês fomos passear em Havana. Vi médicas e arquitetas vendendo o corpo para terem dinheiro para se alimentar. Só acreditei porque conversei com elas. É questão de opção, para mim. Repito: jamais irei trabalhar o dia inteiro por 500, 600 reais, enquanto eu tive beleza física. Eu tenho amigas que vocês nem imaginam o que são e que fazem o mesmo que eu. Se as encontrarem numa destas festas elegantes do Lago Sul, pensarão que são princesas. E não somos? Pelo menos, para os sonhos de muitos".
Convenhamos então, que sonhar custa muito caro se o objeto do sonho for uma "princesa".
Publicado no Jornal de Brasília de 9 de julho de 2000

ADORÁVEIS BANDIDAS

As mulheres saíram de um segundo plano, nos quadrinhos, para uma exposição radical, em que sexo, erotismo e boas doses de banditismos substituíram antigas posturas conservadoras. foi um pulo para as mulheres e para os quadrinhos (ou comics, ou bandes-desinés) que começaram a ser analisados como manfiestações artísticas dentro da cultua de massa dos anos 60. Uma revolução e tanto.
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Bad girl é sinônimo de erotismo indissociável das exigências comerciais da indústria cultural de hoje. Mas, se no renascimento, os pintoras já povoavam suas telas com desejáveis madonas, porque privar o presente e o futuro das deliciosas bandidinhas? Ainda bem que cinema, fotografia e quadrinhos formaram um bem-aventurado inferno para essas pecadoras.
Antes mesmo de completar uma década de funcionamento do Hogan´s Alley (1895),o beco mais imundo do mundo, as bandidas já eferveciam as mentes masculinas, dentro de revistinas em preto e branco, impresas em gráficas de milésima categoria. Foi o tmepo das Tijuanas Bibles ? livrinhos parentes dos catecismos desenhados por Alcides Caminha, o Carlos Zefiro, nas décadas-50 e 60 ? e que ganharam tal denominação porque os norte-americanos viam as suas fronteiras com o México como o típido território que o diabo gosta.
As bad biblias surgiram sacaneando o rádio, o cinema e os quadrinhos, e, em 1952, ionspiraram Harvey Kurtzman a criar Mad. Antes, as bandidas da década-40 já haviam prestado um grande serviço à humanidade, se despindo nas folhinhas e quadrinhos que foraleciam os gloriosos combatentes de guerra. Depois, viraram insunuantes pin-ups, nos anso 50, qiuando até as conservadoras páginas da Esquire se renderam aos seus encantos, como já o haviam feito antes as bragas revistas de terror e os paperbacks policiais.
Na década-60, mudou-se o conceito de quase tudo e as adoráveis bandidas de um mundo que trocara os beatniks pelos hippies, sofisticaram-se, caso de Barbarela, criada por Jean-Claude Forrest, em 1962, capaz de satisfazer o corpo com quem topasse encará-la, fosse deste ou do outro mundo.
Foi por aquele mesmo período que Harvey Kurtzman e Bil Elder criaram, nas páginas da Playboy, a bad danadinha Little Annie Fanny, seguida, em 65, pela mais safadinha aidna Valentina, de Guido Crepax (1965). Na década-70, Ricahrd Crumb e Georges Pichard inventaram as terríveis gordinhas e nos anos-80 vieram mais sensualismo ainda com os italianos Milo Manara (Frederico Felini foi um dos admiradores de sus longilíneas, ingênuas e safadas bad girls) Paolo Serpiere e Giovanna Casotto. Por sinal, Casotto deixou as coisas literalmente da cor do diabo. Inspirando-se nos cineastas Pedro Almodóvar e Russ Mayer, e no escritor Henry Miller, ela produziu quadrinhos loucamente saídos e sua imaginação erótica, com toques de masoquismo. Giovanna, autora e atriz, encontrou terreno fértil par os seus bad sonhos, afinal seu marido - Franco Saudelli - produzia Blonde, uma ladra de jóias, especialista sem despir e amarrar mulheraços. E, com tanta sacanagem no papel, não teve quem se segurasse. Até os conservadores quadrinhos juvenis norte-americanos mudaram.
Na década-90, as bad heroínaspassaram a perder as roupas facilmente e a se meterem em sumaríssimos maiôs. Credita-se a Jim Lee a explosãodo sucesso, principalmente depois do hipersensualismo que ele s os seguidores deram a personagens como Psilocke e Vampira, e do lançamento de novas musas, como Devota e Vodu. No entanto, tudo indica que Elektra, a ninja assassina criada por Frank Miller para dar alento ao Demolidor, tenha sido a primeira bad girldos quadrinhos modernos, com o seu perfil musculoso, mas bandidamente sexy.
O certo é que as bad girl das graphic novelnada acrescentaram aos quadrinhos, a não ser fazê-los vender bem, simplesmente, por causa de suas poses sexy. Foi isso que levou a Penthouse entrar no ramo e lançar a Young Capitain Adventure, desenhada por Adam Hughes, que criou a insaciável Herricane, mestra em aproveitar todas as chances possíveis para tirar a roupa e se dar bem na situação.
Pesquisadores ultrarigorosos conseguem ver nas cavernas peleolíticas as prmeiras manifestações das histórias em quadrinhos. Se estiverem corretos, então não é a partir dr Yellow Kid(16/02/1896) que a mulher pinta nessas histórias, oficialmete, pouco mais de centenárias. Quem há de duvidar que ela não despertava a imaginação de qualquer artista rupestre?
Naquele feveriero de 1896, quando técnicos do jornal New York World sintetizaram a cor amarela no camisoção de um menino careca, o Mick Dugan, criado por Richard Felton Outcault, para a capa do suplemento dominical, a mulher poderia até ser uma das muitas escórias que habitavam o alegre beco Hogan´s Alley. Mas ainda estava longe o tempo em que ela conseguiria a fama de um Yellow Kid, personagem que fez disparar as vendas de um jornaleco.
Desde quando cartunidtas separavam personagens fixos e usavam balões com diálogos, além de imagens sequenciais, o que foi tudo juntado depois por Outcault, tanto nos quadrinhos como nos livrinhos infantis, o homem era sempre dono do pedaço. Com o surgimento dos comics booksnorte-americanos, entre 1933 e 34, no formato meio-tablóide, e contendo histórias completas, a mulher começou a aparecer mais nos quadrinhos. De início, eram as meigas mocinhas capturadas pelos bandidões, para atrair os heróis, o que acontecia tmabém no cinema. Com o passar do tempo, ela até mudou de lado e virou bad girl, muitas delas adoráveis bandidas, com torcida frenética de leitores, desejando vê-las vencedoras no final da história.
Os pesquiadores ultra-rigorosos, que identificam as primeiras manifestações dos quadrinhos "lá para trás", não tinham como ver bad girls nos hieróglifos ou baixo-relevos egípcios, muito menos nas vias sacras católicas, nos trípticos de Bosch e Brughel; nas aventuras seriadas de Goya e Gustav Doré; nos cartazes de espetáculos intinerantes, contando histórias em grandes quadros; nos posters de crimes famosos; nas caricaturas ou nas charges políticas.
No Brasil, que nunca foi um grande consumidor de gibis (generalizaçãodas publicações do ramo, a partir da publicação de uma revista lançada em 1940, com 32 páginas e em papel jornal), as bandidonas ou anti-heroínas viveram o seu grande momento na década-60,quando circularam as supersensuais Mirza, Nádia, Zora e Velta, que deixavam os adolescentes tontos.
A CatwoomanSelina Kyle, a Mulhr Gato, criada por Bob Kane, tendo por modelo uma namorada, foi a primeira bgad girl dos quadrinhos. ex-aeromoça da Speed Airways, Selina sobreviveu a um desastre aéreo, passou por uma longa amnésia, e, quando acordou foi parar na vida bandida. Tudo por falta de emoções no seu pacato dia-a-dia de dona de loja de animais.
Mas foi a sofisticação e a classe bandida que rendeu um fã clube à Mulher Gato. Ele estreou com o Batman, em 1940, o acompanhou nos desenhos animados (Batman: The Animated Series) e com ele chegou às telas (14/03/1968), embora no primeiro ano da série só tivesse aparecido em aventura de duas partes. Na pela da anti-heroína, Julie Newmar (substituída depois pela negra Eartha Kitt) seduzia os homens com as suas roupas colantes, abusadamente sexys, e agradou tanto que o personagem dos quadrinhos passou a ser desenhado tomando por base os seus tributos anatômicos. Mas a Mulher Gato que ninguém deixou de amar foi Ivone Craig, contracenando com Burt Ward, nos seriados das TV dos anos 60.
Em agosto de 1966, quando Batman chegou ao cinema, para salvar os membros do Conselho de Segurançpa das Nações Unida, que seriam raptados e desidratados por todos os vilões da série, coube a Lee Marywether encarnar a adorável bandida, que levou quase 30 anos para voltar à telona. Em Batman, o Retorno, dirigido pro Tim Burton (1992), a apaixonante Catwooman foi Michelle Pfeifer.
A Mulher Gato emplacou tanto que foi preciso criar uma Batgirl de conduta feminina exemplar, para concorrer com ela. Escondendo a identidade de Barbara Gordon, filha do Comissário Gordon, autoridade de Gotham City, a rival Selina foi criada (1967) para a série de TV. No entanto, a princípio, não foi levada a sério. Chamada de Beldade Morcego, A Donzela Mascarada e A Elegante Combatente do Crime, só ganhou importância na década-90.
Entre as brasileiras, o grande fenômeno de criação de heroínas nos últimos tempos foi a Tiazinha, personagem de Suzana Alves, que saiu de um programa para jovens, na TV, para virar heroína encarnando uma bad girl, mas com tendências a fazer ao bem.

Galeria de heroínas

Elektra - Criação de Frank Miller, em 1981. Filha de um diplomata grego, troca de vida e deixa a paixão pelo estudante de Direito Matt Murdock (O Demolidor, figura principal da revista Dardevil) para se tornar uma matadora de aluguel, após o assassinato do seu pai, num atentado terrorista.

Barb Wire - Esperta, malvada e muito amarga foi a definição da atriz Pamela Anderson para a bad girl que ela interpretou no cinema, dirigida por David Hogana e roteirizada por Chuck Pfarrar. Super-sexy e moderninha, Barb Wire cheogu às telas como dona de nightclub e caçadora de recompensa, em Steel Harbour, área neutra no meio de uma guerra divil. Recrutada pela resistência, ela deveria levar um agente, em segurança, até o Território Livre.

Mulher-Hulk - Inicialmente, a versão feminina do Incredible Hulk, inclusive, rasgando roupas. Circulava na revista The Savage She-Hulk, quando Roger Stern a levou para Os Vingadores, uma publicação onde poderia se tornar mais interessante

Voodoo - Inocente personagem desenhada por Jim Lee, para a formação inicial do Grupo Wild Cat, que incluía ainda Zealot e Void, fêmeas arrojadas e violentas.

Thank Girl - Bad girlinglesa criada por Jamie Hewlett e Alan Martin que lhe deram cidadania australiana nas páginas da revista Deadlina (1968). Teve pouca repercussão, mas ganhou uma superprodução cinematográfica, dirigida por Rachel Talalay e estrelada por Lory Pettuy. A DC Comics quadrinizou o filme e ainda dedicou-lhe duas miniséries, The Odissay, escrita por Petr Milligan, e Apocalypse.

Mulher Invisível - Criada em 1961, por Stan Lee e Jack Kirb, como sue Storm, bad girl com poderes próprios, sem representar versão masculina.Dona de casa e mãe, enfrentou a ira das feministas dos anos 70, que não queriam como Invisible Girl. Trocou de nome na década-80.
Mary Jane -Outra bad girlcrida por Stsan Lee, nos anos 70, quando as feministas não aceitavam que os homens decidissem a vida das mulheres. Sem ser superpodedrosa, Jane Watson surgiu decidida, fazendo o que quisesse de sua vida, e sendo capaz de mostrar o caminhodas pedras a Peter Parker, o Homem Aranha.
Druuna -Criação de Paolo Eleuteri Serpieri, em 1985, uma opulenta morena de aterrorizante apetite sexual, proveniente de um mais aterrorizante ainda mundo erótico de ficção científica, onde imperam monstros, mutantes, tarados, etc
Valentina - Criada, em 11965, pelo italiano Gudo Crepax, seria apenas a namorada de Phillip Rembrant, um crítico de artes com poderes psíquicos. Mas, a bad girl, que quase sempre usa apenas sapatos de saltos altos, algemas e um chicote durante as suas aventuas, terminou fazendo o rapaz sumir. Crepaz quadrinizou ainda aoutras bandidas eróticas, como Justine, de Sade; A História de Ó, de Pauline Reage, e Emanuelle Arsan e qye ganhou as telas do cinema no corpo da atriz Sylvia Kristel.
Miss Adventure -Escrita por George Caragonne, uma estonteante loira fatal e virgem vive aventuras que satirizam os super-herós.
Devota - Integrante do grupo Wildcats, usa maiôs que sempre rasgam durante suas aventuras.
Witchblade - Peladona, fora das batalhas usa shortinhos curtos. Investida de supearpoderes, algumas partes do seu corpo são recobertas por placas de metal.
Betty - Sexy-heroína lançada por Dave Stevenson, na metada da década-80, junto com o herói Rockteer, no auge da graphic novel. Foi baseada na pin-up Betty Paige, ícone da década-50.

UM SÉCULO DE EROTISMO

Ela carregou nas costas um dos mais rentáveis centenário da comunicação brasileira e ninguém se lembrou de escrever uma única linha em reconhecimento. Pelo menos, para louvr o grande número de empregos garantidos por ela.

Estamos falando do surgimento do erotismo nos meios de comunicação do País. Isso mesmo, e aconteceu em 1998.
Tudo começou em 1898, época em que as mulheres se cobriam, do pescoço ao tornozelo.Virgindade era artigo abundante na sociedade da época e sexo artigo raro para as damas de fino trato, permitido apenas depois do casamento.
Foi na vigência daquela era de repressão sexual que os cariocs passaram a conviver com o Rio Nu, um periódico pioneiro da imprensa erótica brasileira. Para garantir o sucesso do semanário, que circulou até 1916 e chegou a ter edições extras às quartas-feiras, mulheres eram expostas em suas páginas, em trajes sumários (para a época) e poses insinuantes. Além disso, despiam os apertados espartilhos, diziam frases insinuantes e ainda se mostravam dispostas a caírem na horizontal. Só mesmo uma publicação erótica masculina, que escondia os nomes dos seus redatores, poderia fazer aquilo ? fim de mundo para os conservadores.
Surgia, então, um leque de projeções que a mulher passava a proporcionava à mão-de-obra carioca. Depois de empregar jornalistas, gerou publicidade. Afinal, a primeira publicação erótica nacional despertava tanta curiosidade que os comerciantes viram nas suas páginas a melhor das caixas registradoras. Era uma forma de garantir potência plena e inacabável, pois qualquer remédio contra a disfunção erétil terminava na boca do cofre ? vê-se que a prática do BO (bom part otário) já vem de longe.
E não ficou por aquela malandragem. Povoando a imaginação do carioca, a mulher que freqüentava as páginas do Rio Nuencheu também os bolsos dos produtores de licores eróticos, bons anunciantes. Sem falar que garantiu ainda emprego para fotógrafos, que passaram a sair à caça de belas atrizes do teatro de revistas para serem admiradas pelos leitores. Mas, num espaço de 18 anos, entre um final e começo de milênio, para a mulher proporcionar o aumento do número de empregos ao homem, principal beneficiário da liberalização do sexo na imprensa, o caminho foi lento.
Pode-se dizer que o pioneiro do erotismo literário brasileiro foi o escrivão Pero Vaz de Caminha. No seu relato ao rei Dom Manuel, após Pedro Álvares Cabral descobrir o Brasil (oficialmente), ele contou ao "Venturoso" que as mulheres por aqui tinham "vergonhas cerradinhas" e não se envegonhavam dos olhares indiscretos.
Escancaradamente, o erotismo feminino na imprensa brasileira só explodiu a partir do início da década de 1970, quando a revista Ele e Ela, da Editora Bloch, publicou a foto do nosso primeiro nu frontal. Na década anterior, as puyblicações eróticas de circulação nacional, como a Status, não se atreviam a tanto. No máximo, alavancavam as suas vendas exibindo mulheres lindas com roupas sumárias, nas suas capas, ou exibindo os seios nas páginas internas.
O caminho aberto pela mulher que teve a coragem de mostrar as suas vergonhas em Ele e Elasignificou a geração de centenas de empregos ? maqiuiadores, cabelereiros, diagramadores, fotógrafos, modelos, etc ?). O sucesso foi tão significativo que, nove meses depois, nasceram outras 15 revistas eróticas no País, com circulação entre 20 a 40 mil exemplares. Par que aquilo tudo acontecesse, foi preciso que o sisudo regime militar brasileiro se tornasse mais maleável na censura às artes e aos espetáculos ? durante o governo do presidente Ernesto Geisel, os editores das revistas eróticas eram obrigados a cortar ou retocar seios, regiões pubianas e calcinhas.

(sub-título)
NA ERA DO CINEMA PORNÔ


Quando as artes e os espetáculos encontraram o governo militar brasileiro mais maleável e conseguiram liberalizar a anatomia feminina junto à censura que, freqüentemente, mandava apreender livros, a mulher foi a máquina propulsora de uma indústria que proliferou-se pela década-70, a do cinema pornô.
Indiferente à postura política da nova mulher brasileira, que já incluía idéias libertárias espalhadas pela juventude francesa, desde maio de 1968, os presidentes-generais, Garastazu Médici e Ernesto Geisel, "resguardando a segurança nacional", viram que estava diante de um grande momento para impedir o Brasil de assistir filmes politizados. Naquele novo momento, a mulher não se demorava nas sexy-cenas de cama e nem mostrava as suas "vergonhas frontais". Deixava, no entanto, a imaginação a mil.
A década-70 foi um tempo fértil para o nascimento de mitos femininos, que representaram investimento seguro em suas imagens. Foi assim com Leila Diniz, Adriana Prieto (as pioneiras), Vera Fischer, Alcione Mazzeo, Matilde Mastrangi, Adele Fátima, Helena Ramos, Simone Carvalho, Lady Francisco e Claudete Joubert, só para citar poucas.
Por meio das pornochancadas, que foram classificadas, inicialmente, de "comédias de costumes", as ofereceram trabalhos para muitos diretores ? entre eles, José Miziara, J. Marreco, Toni Vieira, Cláudio Cunha, Sílvio de Abreu, Adriano Stuart, Carlos Imperial, Cláudio MacDowell e Pedro Rovai ? e atores como Nuno Leal Maia, Antônio Fagundes e Mário Gomes. Filmes como "A Superfêmea", "Anjo Loiro", "A Viúva Virgem" e "O Bem Dotado: O Homem de Itu", lotaram salas de cinema pelo País afora.
Dirigido por Carlos Rovai, "A Viúva Virgem" levou seis milhões de espectadores aos cinemas, mas estima-se que o público total possa ter chegado aos 15 milhões, pois não havia registros confiáveis pelo interior brasileiro. A película, que garantiu o emprego de bilheteiros porteiros e maquinistas, chegou a bater a bilheteria do norte-americano "Golpe de Mestre", ganhador do Oscar de 1972 ? outro filme de Carlos Rovai, "Ainda agarro esta vizinha", chegou a representar o Brasil no Festival de Cinema de Cannes, na França em 1975.

(suib-título) O SENTIDO DAS COISAS

Foram duas mulheres ? Adelaide Carraro e Cassandra Rios ?, as responsáveis pela disseminação da literatura erótica no País. Mas, depois que o filme japonês "Império dos Sentidos (de Nagisa Oshima) foi exibido por aqui sem cortes, contendo cenas de sexo explícito, as publicações das duas escritoras passaram a ser vistas como tímidas. A partir de então os brasileiros se viram diante de uma enxurada de livros sobre sexo, a maioria norte-americanos ? Truque do Travesseiro; Engate e Volteio; Rolo de Macarrão e Arco e Violino foram os mais vendidos.
Tanta literatura sobre sexo no Brasil ? Guia das Carícias: ABC do Amor e A Força do Amor, para citar poucos ? era, realmente, algo impensável, dentro de um execrável regime militar. Podia-se, porém, entender: o cinema pornô estava no auge, e a sexologia contava com a vulgarização da psicanálise. Portanto, já se podia distanciar dos tempos dos livros éticos (quase nenhum técnico) e muito mais das teorias científicas e retrógradas do século XIX, como a apalcação de sangue-sugas nos órgãos genitais das mulheres superexcitáveis.
Na década de 1980, coube à atriz Regina Duarte dar mais um grito de liberalização às mulheres. No seriado "Malu Mulher", da TV Globo, sua personagem mantinha relações íntimas com uma amiga e, num outro episódio, encenava um orgasmo. E, por falar em orgasmo, desde a época dos sixty que Virgina Johnson, em parceria com o marido, William Master, havia concluído que a mulher poderia ter orgasmos múltiplos. O fato, porém, é que há mais de um século a mulher vem fornecendo orgasmos mentais ao homem.

O ENIGMA DO SORRISO

Há mais de cinco séculos, se cultivam histórias e lendas sobre uma pintura sonhada em 1502 e nascida no abril de dois anos depois, para se tornar o maior mito da história das artes, La Gioconda. Só que a modelo pintada por Leonardo da Vince, a recatada dona de casa Lisa Gherardini del Giocondo, jamais se viu na tela. Isso mesmo! Mas milhões de curiosos do mundo inteiro a procuram, diariamente, no Museu do Louvre, em Paris, onde se encontra cercada por um vidro à prova de bala e que a protege de roubo.
Também chamada, erradamente, de Monas Lisa, pois esta foi uma sua “neta”, Lisa era a mulher de um mercador de sedas, Francesco del Giocondo, e tivera uma impressão tão ruim de Leonardo, quando se conheceram, que quase chegou a desistir de ser a modelo que o gênio imortalizaria. Afinal, era censurável a uma “madonna” florentina pôr-se diante de um sujeito tão excêntrico como aquele, usando vestes espalhafatosas e um linguajar chocante, a ponto de dizer-lhe que pretendia captar-lhe a alma . Por causa das esquisitices de Leonardo, La Gioconda esteve ameaçada de não nascer. Alias, duas vezes. Antes, quando Lisa desaprovara a idéia, Francesco propôs-lhe dispensar o “dipintori”, mesmo tendo-lhe adiantado parte do pagamento pelo trabalho.
O nascimento do mito começa quando Leonardo da Vinci conhece Giuliano de `Medici, em 1502, em Urbino, onde estivera a serviço do papa Cesare Borgia, para estudar e reproduzir o traçado arquitetônico do castelo onde o rapaz vivia exilado, após a queda, em 1494, dos 60 anos de poder político dos Médici, em Florença. Foi quando o Medici solicitou-lhe o retrato da prima. Leonardo só o fez porque se cansara da vida errante que levava e por achar uma bestialidade humana as campanhas militares de Borgia, que planejava transformar em um só reino da Itália as regiöes da Toscana e de Florença. Assim, na tarde de 4 de março de 1504, aquele homem alto, barbudo e careca, de 51 anos, surpreendeu Francesco, na Fiação Giocondo, informando-o de que estava ali, a pedido de Giuliano de Médici, para pintar um retrato de sua esposa.
Se Lisa esperava vê-la rapidamente numa tela, nem imaginava o que a esperava. De início, achava que não faria sentido atender a um amor que já se tornava uma lembrança distante, pois ela só se via como uma dona de casa muito ocupada com os afazeres domésticos e filantrópicos, além da educação do enteado Bartolomeo, filho de Giocondo com a sua primeira mulher, Camilla Rucellai. Além do mais, aos 24 anos de idade, não se considerava mais a "giovinetta" que o primo transformara em mulher, aos 15, no olival de Fiesole. Foi preciso muita conversa para Francesco convencê-la a posar para Leonardo, o que Lisa só concordou quando o ouviu elogiar a sua beleza, além da garantia de que seria algo breve, pois os pintores só trabalhavam o rosto e as mãos dos seus modelos, deixando o restante a cargo dos aprendizes. De sua parte, Leonardo prometera, em seis de março de 15004, terminar o retrato em junho.
Pronta para posar, no início de abril, Lisa não acreditava que Giuliano a reconhecesse com aquela sua nova fisionomia, nove anos depois, quando não usava mais os cabelos caídos pela face. Os partia ao meio, com duas fitas lisas em curva, para ajudar a formar um cacho dobrado na nuca, e passara a usar um véo preto para fixar o penteado. Sem dar a mínima importância ao que viveria, ela se apresentara-se para posar usando uma roupa caseira escura, com uma fechada blusa vinho com mangas. Depois que Leonardo, usando uma túnica bordada a ouro, presente do Papa Cesare Borgia, ajustou-lhe a pose e ia começar a riscar, repentinamente, ela lembrou-se de que Giuliano nunca a vira daquele jeito. Retirou anéis e pentes, além dos cachos falsos sobre as orelhas e sacudiu a cabeça, seus cabelos caíram sobre os ombros e, então, Leonardo começou a transformá-la num mito.
Enquanto pintava, Leonardo via nos olhos castanhos e no sorriso de Lisa a reencarnacäo de Albiera Amadori, a madrasta que o fizera de filho e lhe dera amor e carinho, por 12 nos, enquanto seu pai o desprezava. Leonardo tornou-se amigo de Lisa, embora jamais cumprisse prazos. Só em setembro de 1506, ele comunicou-lhe que o quadro estava terminado, sem apresentá-lo. Disse-lhe que viajaria passando por Urbino e pediu permissão para entregá-lo a Giuliano.
Lisa reencontrou-se com o primo que encomendara La Gioconda, em 1512, quando o Papa Júlio II, com a ajuda do exército espanhol, expulsou os franceses da Itália, tomou Florença, destituiu o chefe de estado, Piero Soderini, e recolocou os Médici no poder. Passados 18 anos , ela era uma mulher espiritualmente e sexualmente muito satisfeita com o marido, ao qual se entregara, por gratidão, dois anos depois de casa. Em nada, Giuliano, que fora o grande amor de sua vida e agora era o novo chefe-de-estado florentino a emocionara. Para piorar, ela ficara decepcionda em saber que Leonardo não lhe entregara o quadro. O destino, porém, se encarregaria disso. Coroado Papa, em 11 de abril de 1513, Givanni de Medici, o Leão X, levou o irmäo Giuliano para Roma, e o fez comandante-chefe do exército papal. Em maio, Leonardo decidira tentar a sorte no novo principal centro artístico da Europa. Antes, voltou a procurar Lisa, assegurando-lhe de que, daquela vez, o primo receberia a tela. Lisa sorriu, e nunca mais se viram – nem ela o quadro.
Em Roma, enquanto o Papa negociava o casamento de Giuliano com a filha do duque de Sabóia, Filisberta, o irriquieto Leonardo conseguia emprego na corte papal. Só assim Giuliano conheceria "La Gioconda". Mas ficou pouco tempo com ela, pois antes de casar-se com a tia do futuro rei da França, Francisco I, tristemente, a retirou da parede, no final de 1514, e a devolveu a Leonardo, pois não queria que a esposa visse o retrato de uma outra mulher em seu quarto. Giuliano percebera que o artista gostava muito da obra. Verdade! Leonardo, que em 1516, na sua última passagem por Florença, soubera que Lisa agora só existia em sua tela, passou o final de sua vida, em 1519, em Amboise, na França, olhando para o rosto da Gherardini e misturando aquela imagem com a figura de Albiera, o que a sua mente transformava numa só mulher – com um sorriso intrigante.

TETRANETA DE TIRADENTES QUER SOLUÇÃO PARA PROBLEMAS INDIGENAS

No domingo, quando estiver no palanque, recebendo os cumprimentos de autoridades e convidados para o desfile cívico-militar do sete de setembro, uma brasleira vai entregar ao presidente Luís Inácio Lula da Silva uma carta com duas reivindicações: uma pessoal e a outra coletiva.
Trata-se de Lúcia de Oliveria Menezes, carioca, de 63 anos e que vive com uma modestsa pensão, de pouco mais de R$ 700 reais, deixada por seu pai. Até aí nada de extraordinário. Porém, Lúcia é tetraneta do patrono do Brasil, Joquim José da Silva Xavier, o Tiradentes (1746-1792), e jamais recebeu a pensão aprovada pelo Congresso Nacional, pela qual luta no Supremo Tribunal Federal.
Se a sentença que condenou Tiradentes e a sua descendência, por tentar fazer do Brasil uma nação livre, ainda valesse, Lúcia, dificilmente, estaria viva, pois ela é a última representante da quinta e execrada geração do “Mártir da Independência”, conforme ela faz questão de mostar na cópia do documento original onde está lavrado castigo imposto ao inconfidente, pela corte portuguesa que colonizava o Brasil.
Lúcia nunca se filiou a nenhum partido político e diz que jamais fez campanhas para algum candidato. Mas, assim como seu tetravô, gostaria de resolver um problema nacional: a questão das terras indígenas. É este o segundo pedido que fará ao presidente Lula – o outro será pela sua intercessão pelo cumprimemto da lei que lhe concede uma pensão, pois alega que é diabética e gasta muito com o seu tratamento.
Para atender ao convite do Palácio do Planalto e se juntar ao presdiente Lula nas comemorações do Dia da Pátria, Lúcia mandou confeccionar um casaco, no qual colocará todas as medalhas recebidas. “Na verdade, as homenagens me prestadas são para o meu tetravô, do qual herdei o grande espírito cívico”, entende a descendente do alferes que foi enforcado e esquartejado, por tentar livrar o Brasil da espoliação de Portugal, em 1789.
A descendência de Lúcia não deixa dúvidas. Desde a certidão de nascimento e batismo de Tiradentes, até a sua sentença condenatória, ele tem cópias dos originais lavrados em cartório. Em um documento fornecido por um instituto genealógico de Minas Gerais, consta que ela é filha de Lucilo Medeiros Menezes, com Isabel de Oliveira Menezes; neta de Sancho de Medeiros Menezes e de Carolina Custódia Beltrão (em solteira, Zica); bisneta de Belchior de Almeida Beltrão e de Maria Custódia Rodrigues Zica; trineta de João de Alemida Beltrão e de Maria Francisca da Silva e tetraneta de Joaquim José da Silva Xavier e de Eugênia Joaquina da Silva.
SEGREDO - Desde garotinha, Lúcia sabia da sua descendência ilustre. No entanto, logo fechou-se para aquela realidade, por não suportar ouvir as colegas de escola chamá-la de mentirosa. “Evitei o assunto, que ficou por um bom tempo na clandestinidade”, brinca uma alegre e sorridente mulher, que herdou do antepassado o timbre forte da voz.
Só em 1969 Lúcia voltou a tocar no “sangue de Tiradentes”, após três trinetos do alferes e que viviam em Dores do Indaiá-MG – Pedro Zoé e Maria – serem levados ao conhecimento do presidente Costa e Silva e do governador mineiro Israel Pinheiro, pelo professor Leonardo Motta de Vasconcelos, embora sem o Xavier no sobrenome. “Os meus antepasassados o excluíram, para escapar da perseguição da Coroa”, lembra ela e confirma a história.
A lei que concede uma pensão estatal a Lúcia foi enviada ao Congresso Nacional, pelo presidente Itamar Franco, que fez questão de chamá-la para comunicá-la, em 1996. Mas o INSS foi contra, citando que nenhum descendente de Tiradentes a recebe e que ela já é pensionista, beneficiada pelo pai. Nessa briga, a Ordem dos Advogados do Brasil lhe auxilia, por intermédio da advogada Sonia Teles de Bulhões, que não lhe cobra nada.
Se um dia vier a receber sua pensão – luta por isso, há 12 anos – , Lúcia não sabe. O que ela diz saber, ver, muito bem, é que seu tetravô está sendo esquecido. “Os jovens não sabem quem foi Tiradentes. A culpa é desse ensino diferente, dos professores de hoje. Vejo, também, muitos adultos sem tal conhecimento e sem patriotismo”, queixa-se a tetraneta do homem que desafiou Império brasileiro.
A primeira homeangem que Lúcia recebeu – ela insiste em dizer que foi para Tiradentes – ocorreu em 1999, quando o então governador de Minas Gerais, Eduardo Azeredo, mandou buscá-la, para as comemorações do 21 de abril, em Ouro Preto. No entanto, só três anos depois ela obteve o reconhecimento oficial da sua descendência, quando localizou, nos cartórios de Campos Belos-MG, as certidões de nascimento e casamento do seu pai – até 1937, a genealogia de Tiradentes apontava o pai de Lúcia como solteiro. Ela nasceu em 1945.
VIDA CANDANGA - Lúcia vive em Brasília, desde 1962, quando seu pai engrossou a leva de pioneiros que vieram sevir ao antigo Departamento Nacinal de Estradas de Rodagem-DNER. Solteira, diz que ficou assim por dedicar toda a sua vida a cuidar de sua mãe, após perder o pai. Devido à diabetes – e por falta de dinheiro – ela só sai para visitar as duas irmãs mais velhas, ou para participar – há 26 anos – das programações de um grupo espírita kardecista, na Candangolândia.
Indagada se ela acredita que o presidente Lula seja a reencarnação de Tiradentes, como afirmou, recentemente, uma médium, em Taguatinga, Lúcia foge, indisfarçavelmente, do tema, abrindo a tangente para “os companheiros de um plano espiritual mais elevado”. Mas, deixa escapar: “Acho que não”.
Quem primeiro a convidou para participar das comemorações do sete de setembro foi o Exército, em 1997. Depois, o presidente Fernando Henrique. Nesta semana, ela deparou-se, com um homem, aqui em Brasília, vestido de Tiradentes e pedindo aos brasileiros para não esquecerem do maior herói da pátria. Lúcia relemgra, voltando a brincar: “Saí correndo atrás dele. Corri cinco séculos para trás!”
Matéria publicada no Jornal de Brasília de ...

ROMEU E JULIETA DO SINALEIRO

O que você pensaria, passando, à noite, por um sinaleiro do Setor Comercial Sul e vendo uma linda morena exibindo um enorme coração desenhado em um chocante vermelho? Ou se visse um rapaz, com uma placa, dizendo que cozinha, lava, passa e dá carinho? Com certeza, pensaria que eles estavam sendo mais criativos do que a “concorrência”, não é mesmo?
Se pensou assim, errou! Errou, como erram, inicialmente, os cobradores de ônibus que paravam pelo pedaço. “Eles olhavam e faziamm aquelas caras de quem quer decifrar a cena. Agora, já estão acostumados, até brincam conosco”, conta Mário Luís, de 20 anos, o cara que diz que dá carinho. “Tem gente que grita pra mim: ‘Vem comigo! Vem cá, meu amor. Vem que eu, também, quero lhe dar meu coração’. E outras gracinhas mais”, informa Samara Maia, a morena, de 19 anos, que pinta nas “night” usando um vestido de noiva abandonada.
Pois bem! A dupla que exibe um coração e promete carinho não vai para um sinaleiro em busca de emoções noturnas na horizontal. Nem pensar! É formada por alunos da Faculdade de Teatro Dulcina de Morais, fazendo performances divulgadoras do Grupo do Concreto, para apresentações em uma praça pública da 706 Sul. A rapaziada distribui ingressos às quartas e quintas-feiras, arrebanha público na Estação Rodoviária, lota um ônibus e vai mostrando a sua arte pelas ruas, até chegar ao destino, onde é encanado a peça “Entrepartidas”, às sextas-feiras, sábados e domingos, com texto de Jonathan Andrade, direção de Francis Wilker e participação, também, de alunos da UnB.
Mário Luís já passou por situações inusitadas, durante uma de suas performances no sinaleiro. “Teve gente achando que eu estava ali à cata de um dinheirinho e atirou moedas para mim”. Samara não esquece de uma cena engraçada, envolvendo um motorista de um carro oficial. “Havia uma colega fazendo uma performance, um pouco atrás do local onde eu e o Mário estávamos. O cara achou que ela estivesse passndo mal e ofereceu-se para levála até um hospital”, lembra, sorrindo.
MENSAGEM – Durante as performances no sinaleiro, Mário Luís grita para Sâmara, que fica do outro ladoda pista: “Eu te amo”. Ela respnde: “Não estou lhe ouvindo”. Ele indaga: “Cadê você?” A moça reponde que não o está escutando. E diálogos rolam, até o sinal abrir. “Como a nossa mensagem é o amor, há quem faça cara feia, achando que sou garoto de programa. Mas tudo não passa de metáfora da vida moderna”, define Mário.
A princípio, os pais de Sâmara não consideraram “muito normal” o que ela fazia pelas noites de Brasília. “Mas, depois, ficram sbendo de que era algo muito saudável”. Ela e Mário não são namoados e estão com seus corações livres. “O nosso grande amor é o teatro”, avisam.
A partir desta semana, quem não às apresentações de “Entrepartidas”, gratuitmente, vai ter que mexer no bolso. Inteira a R$ 30 e meia a R$ 15. É só uma forcinha, pra encarar despesas de aluguel de ônibus, montagem da peça, em uma casa da 706 Sul, coisas assim. Mais detalhes sobre o espetáculo no Roteiro do Jornal de Brasília. Sinal aberto!
Obs: texto excrito pro meu marido, Gustavo Mariani, publicado no Jornal de Brasília de 22 de maio de 2010.

A ENCANTADORA DE CÃES

Esta é uma história interessante, pra cachorro! Tudo começou quando veterinária Deise Lizi foi demitida pela Secretaria de Saúde do DF, no final do ano passado. Desempregada, ela mandou imprimir alguns cartazes e cartões, e pediu um “help” à irmã Débora, de 16, e à vizinha Carol, de 17 anos, para divulgar os seus préstimos. Antes disso, na academia onde faz ginástica, ou nas baladas, lá estava ela, entre uma dança e uma contradança, sempre oferecendo o seu cartãozinho aos presentes ao recinto. Mal sobrava tempo para o namorado afagar-lhe as suas lisas e longas madeixas loiras.
Gaúcha peleadora, desde que nasceu, em Porto Alegre, há 30 anos, a Miss Lizi – como os amigos betlemaníacos a chamam, numa alusão à música do mesmo nome –, não podia ver ninguém passeando com um cachorro. Rápida, como os raios que espoucam durante os invernos dos pampas, ela chegava junto. Descia do carro e surpreendia o transeunte, “apresentando armas”, isto é, os seus divulgativos. “Imagine três garotas chegando, assim, de repente, abordando as pessoas! Era até engraçado”, considera a veterinário.
O mais engraçado, porém, foi o que ocorreu quando a Miss Lizi não pode sair junto com as duas “fiéis escudeiras”. Pediu-lhes para extenderem o raio de ação além de pet shops, supermercados, farmácias, postos de gasolina, itens assim, e darem um rolé por onde os cãos fazem xixi – árvores, alambrados, por aí. Foi então que as ajudantes de divulgação não perdoaram nem os postes. Ao ser informada, Deise Lizi avisou-lhes que elas haviam acabado de cometer um ilícito, e pediu-lhes para retirarem tudo, imediatamente, pois era proibido afixar cartazes em edificações estatais localizadas em logradouros públicos. Só que, devido ao adiantado da hora em que a comunicação se dera, as adolescntes deixaram tudo para o outro dia. E como o “outro dia’ das meninas levou mais uns dois ou três dias, aquele tempo foi suficiente para uma clientela se formar. Vários “leitores postais” telefonaram, marcaram consultas e descobriram nela uma verdadeira encantadora de cães.
Hoje, circulando com o seu consultório no porta-malas do seu carro, a Miss Lizia não reclama mais da demissão na agência estatal onde servia até o começo do janeiro passado. Já pode, até, dar uma escapadinha, de uma semana, para Nova York, onde assoprou as velinhas alusivas a mais uma das suas “jubilosas efemérides”, cantando o multinacionalíssimo “Hapy birth day to you”, em vez do abrasileiradíssimo “Parabéns pra você”.
A VETERINÁRIA QUE ENTROU NUMA FRIA - Deise Lizi cursou veterinária, entre 2000 e 2007. Já pós-graduada, na área de clínica e cirurgia de pequenos animais, ela já se prepara para ir mais além. Vai cursar uma pós de dermatologia. “Desde criança eu era ligadona em animais e fazendas”, cita ele que, aos três anos de idade, pelo Natal, foi presenteada com um pastor belga, o Pirata, que também trocou os rincões gaúchos pelo Planalto Central, junto com a família de um funcionário público, quando ela tinha cinco anos. Quando universitária, Deise Lizi pretendia cuidar só de bovinos. Mas, como curtia muito os danadinhos dos “totós”, terminou mesmo foi bandeando-se para a área dos pequenos animais, que inclui gatinhos e gatões, “como o meu namorado”, brinca.
A vida profissional da Miss Lizi começou com uma tremenda gelada. O proprietário de uma clínica de muita tradição, em Brasília, com grande clientela, precisou viajar e deixou-a tomando conta do estabelecimento. De cara, ela deparou-se com a desavença entre um pit-bull e um pastor alemão. “A cliente chegou desesperada, passando-me uma terrível tensão”, recorda. Depois, rolou uma briga entre um quati e um rotweiler, numa chácara. Ficou das 11 às 16h suturando o cão. “Os colegas me sacaneavam, dizendo, “depois piora”, e piorou mesmo. Veio-me o caso de um atropelamento de um poodle”, fato que não gosta de falar.
O caso mais inusitado que chegou à Miss Lizi foi o de um cachorrinho, de seis meses, que comera chumbinhos para matar ratos. Ela o recebeu bem debilitado, o internou e levou quatro dias para salvá-lo. Dias depois da alta e de o “totó” já estar se alimentando noral, o proprietário avisou-lhe que perdera o animal “Muito danado, ele tentou pular sobre uma vala na chácara, mas não deu conta”.
RECEITA - Depois de ter passado por duas clínicas, Deiz Lizi chefiou o departamento de pequenos animais da Zoonose do DF, onde conheceu a burocracia estatal e a maldade dos criadores. No primeiro caso, via a papelada impedindo-lhe resolver o que deveria ser para ontem. No segundo, pessoas abandonando seus cães no canil público, por problemas de saúde, velhice. “Alguns alegavam estarem se mudando para apartamento. Então, a Zoonose ficava mal vista, como matadouro de cães, quando, na verdade, os proprietários era quem levavam a este caminho”, critica.
Para Deise Lizi, a veterinária vem tendo um bom mercado em Brasília. Ela recomenda especialização aos novos profissionais que saem das faculdades. E avisa: “Nada de vaidades ou dificuldades”. Em suma, para não sumir da praça: quando precisa fechar um diagnóstico, na dúvida, nada demais consultar colegas mais experientes. Da mesma forma, se levantar na madrugada fria, sem reclamar, e sair correndo para atender aos apavorados cinófilos que telefonam.
Obs: texto escrito por meu marido, Gustavo Mariani, para o Jornal de Brasília de..

SEU LUISINHO, PAI DA BOLA NO FEMININO

Bola é um substantivo feminino comum. Logo, mulher. Chutada pelo homem, há milhares de ano. Se bem que há masculinos que a acariciam com as duas mãos. Até a agarram. Pulam, se esticam, vão pro alto buscá-la. Caso dos goleiros. A bola faz marmanjos correrem – e muito – se degladiarem por ela.
Exerce bem o seu papel feminino. Um dia, porém, por acaso, por inteiro acaso, as mulheres imitaram os homens e, também, pasaram a chutá-la. Culpa de um masculino. Mais, precisamente, de Aluysio Gomes do Nascimento, o seu Luisinho, um sujeito que mede 1m53 de altura, mais baixo do que Babá, um ex-ponta esquerda do Flamengo, que foi o menor atleta do futebol brasileiro.
Quando estava com 9 anos de díade, no Riode Janeiro, o ainda Aluysio já batia as suas peladas no meio da rua e ouvia os meninos maiores escalando, na ponta da língua, o time do Flamengo de 1939: Valter, Domingos da Guia e Marin; Brito, Volante e Médio; Valido, Valdemar, Leônidas da Silva, Gon zalez e Jabás. Daquele time, Aluysio, que estava virando Luisinho, ficou amigo do goleiro Valter. Muitos anos depois, em 1976, ele estava na Faculdade Dom Bosco de Educação Física, matriculando um dos seus filhos, quando reencontrou o antigo camisa um rubnro-negro, que era um dos diretores do estabelecimento. Enquantose abraçavam, São Pedro resolveu abrir a torneira do Céum, fazendoi um grupo de meninas saírem correndo, de um gramado onde tinham ala, para um ginásio coberto, nde eles estavam.
Ao ver a revoada de garotas chegando correndo e explodindo saúde, Seu Luisinho indagou ao amigo Valter: “Porque não colocamos estas meninas pra correrem atrás de uma bola?”. E sugeriu criar um time com aquela turma. Nasceria ali, o futebol (que não tem gênero) feminino em Brasília. Seu Luisinho formou o primeiro time na Dom Bosco, depois a Aruc o seguiu, mais depois o Minas Braasília Tênis Clube e até o Brasília Esporte Clube, que era bicampeão cadnango, foiu surpreendido, um dia, com o pedido de uma moça que trabalhava no aeroporto, a Dedete, para lhe empretar suas camisas e seu grupo representá-lo na nova onda que rolava pelos campos do DF. No Gama, Seu Luis se encarregava de movimentar as garotas. E o lance não parou mais. Só cresceu.
“Jogamos em várias partes do DF, como time das meninas da Dom Bosco, inclusive no Gama, com a turma do Seu Luis, pra criar rivalidade. O movimento cresceu tanto que, dez anos depois, Brasília já sediava um Campeoanto Brasileiro de Futebol Feminino, que foi disputado no Mané Garrincha”, conta Seu Luisinho, lembrando, também, que a gauchinha Bel, atacante do Internacional, foi o grande sucesso. “Saiu na capa da Playboy”, lembra.
Além de impulsionar o futebol das meninas no DF, Seu Luisinho trabalhava como roupeiro do Brasília Esporte Clube, hoje Futebol Clube. Na década de 1980, ele ficou responável pelos times do Minas e viu o Grêmio Olímpico Tiradentes, liderado pelo hoje coronel da reserva Carlos Fernando Cardoso Neto, conquistar o primeiro campeonato oficial brasiliense da modalidade, promovido pela então Federação Metropollitana de Futebol.
Seu Luisinho chegu a Brasília nos inícios da cidade. Rapidamente, se enturmou com a turma do futebole fez de tudo no Guanabara, campeão candango de 1964. “Fui massagista, roupeiro, motorista, auxiliar técnico, o que desse. O time era rubro-negro e acabou depois da Revolução de 31 de Março. Formamos um timaço, com aquela turma do Elvídio (goleiro), Jair, que jogou no Vasco, Cid, Santiago, Agacir, Lula, Azulinho, Nilson e oturos cujos nomes não me lembro agora”, descculpa-se.
Aos 80 anos, Seu Luisinho está bem de saúde, residindo perto do campo de futebo do Cruzeiro, onde faz, sempre, uma paradinha, para coversar com a rapaziada, nas vezes em que sai fazendo as suas caminhando, “‘para não ficar enferrujado”, brinca. Uma de suas maiors alegrias ´saber que já revelou jogadora para a Seleção Brasileira, a Nildinha.
PONTO ZERO – O primeiro jogo feminino que se tem notícia no Brasil foi em 1913. Atraído por um comercial, segundo o qual as mulheres “poderiam até jogar futebol”, o público foi grande. Mas o machismo de uma época em que só lhes estava reservado o papel de torcedoras, taxou-as de grosserias, malcheirosas e sem classe”.
No Estado Novo, do presidente Getúlio Vargas, entre 1937 e 1945, veio o decreto-lei Nº 3.199, controlando a prática desportiva e empurrando o “sexo frágil” para longe da bola e pra perto dos “sagrados os deveres do lar” . Piorou com o regime militar dos generais-presdidentes. Em 1965, eles criaram um outro decreto-lei, proibindo a mulherada de “adentrar ao tapete verde”. A bola muracha, no entanto, foi revogada, em 1982, pelo já extingo Conselho Nacional de Desportos. Se não fosse isso, não teríamos a genial Marta e medalhas em Olimpíadas e Copa do Mundo.
Obs: texto escrto por meu marido, Gustavo Mariani, para matéria do Jornal de Brasília de..

OLGUINHA DOS ESTUDANTES

“Olguinha dos Estudantes", do jornalista Manoel Barroso, traz o leitor de volta à década de 1930 e parte dos anos 40 e 50.  Trata-se de uma pesquisa concluída 50 anos depois de fatos que cercam o enredo, como a Revolução de 1930 e a Constitucionalista, o fim das República Velha, a Intentona Comunista, a primeira Guerra Mundial, a volta dos pracinhas ao Brasil, o crescimento do nazi-fascismo e do comunismo, e a ditadura do presidente Getúlio Vargas.
 O personagem central da trama, Olguinha, é o “nome de guerra” de uma ativista política paulista que foge para o Rio de Janeiro, quando percebe que está perto de ser exterminada pelo regime político de Vargas, assim como ocorrera com o noivo, companheiro de lutas. Na clandestinidade, quando o dinheiro acaba, ela aceita o convite de uma prostituta granfina, a única que tinha automóvel no Brasil, e vai visitá-la em sua “pensão”. Para ter o que comer, termina aceitando vender seu corpo, mas só para estudantes.
 Manoel Barroso diz que Olguinha é o somatório de várias figuras de uma época em que “os estudantes ajudaram a empurraram o País para profundas transformações sociais, reformando a consciência popular”. É uma história emocionante, passada em um Rio de Janeiro com 1 milhão e 800 mil habitantes, quando o Brasil só tinha 40 milhões e uma sociedade caracterizada pelo elitismo, o machismo, o, preconceito, o catolicismo e o acentuado sincretismo religioso. “O povo era muito patriota, apaixonado por futebol, carnaval e samba, convivendo com um altíssimo índice de analfabetismo”, acrescentas o jornalista.
As pesquisas de Manoel Barroso o levaram também a encontrar um Rio de Janeiro onde muitos pais entregavam ops filhos adolescente a prostitutas de confiança, para a iniciação sexual. “E eles repetiam os pais, freqüentando cabarés, dancings, cassinos, tudo os antecessores faziam. Já as moças não tinham orientação sexual, apenas aprendiam a se defender do pecado, controladas pelo preconceito e temendo o grande constrangimento de serem mães solteiras”, historia Barroso.
É nesse contexto que Olguinha se insere na vida carioca, tornando-se amigas de figuras relevantes do meio social da cidade, como artistas e pintores famosos, que nem desconfiavam de quem ela era, após passar por profunda transformação corporal e no vestir-se. Com classe, iniciava os adolescentes no sexo, mas sempre exigindo a carteiras de estudante.
 Olguinha, protegida pelos colegas ativistas políticos com quem tramava, chegou a ter uma missa de sétimo dia rezada, após a publicação, nos jornais, de um acidente automobilístico que lhe vitimara. No entanto, após a queda de Getúlio Vargas, lá estava ela, de novo, fazendo política e chegando a se eleger deputada estadual, sem que ninguém soubesse da sua vida no clandestinidade.
Obs: texto escrito por meu marido, Gustavo Mariani, para uma matéria do Jornal de Brasília.

A CASA DAS SETE MULHERES

  Está na praça o livro “A casa das sete mulheres”, de autoria de Letícia Wierzchowski, pela Editora BestBolso. A edição sai em tamanho reduzido (17,5 x 11,5) e o texto é o que deu origem à minisérie do mesmo nome, adaptado por Adelaide Amaral e Walther Negrão, e apresentada pela TV Globo, em 2003, numa superprodução dirigida por Jaime Monjardim.
 “A casa das sete mulheres” é uma história que tem como pano de fundo a Revolução Farroupilha, também conhecida por Guerra dos Farrapos, entre 1835 e 1845, quando o Rio Grande do Sul rebelou-se contra o Império brasileiro, por motivos econômicos, tendo por fio da meada a política do governo central para o charque, principal produção regional.
 Conflito que durou 10 anos e que terminou sem vencido ou vencedores, esta foi a mais longa guerra civil continental e da qual Letícia Wierzchowski se baseou para construir a saga de sete mulheres isoladas em uma estância, pelo líder revolucionário gaúcho, o general Bento Gonçalves, que desejava manter a família a salvo e distante das zonas de escaramuças. 
 Natural de Porto Alegre, em 1972, a autora havia estreado na literatura em 1998,quando lançou “O anjo e o resto de nós”. Neste seu segundo trabalho, ela vai mais profundamente nas razões das lutas gaúchas contra o Império, o que foi muito bem mostrado nos 50 capítulos das minisérie global, já vista em mais de 30 países. Quando a livro, ele já foi lançado em Portugal, Grécia, Espanha, Itália e Sévia-Montenegro, e pode ser lido como um ótimo complemento das demais obras de historiadores sobre o grande conflito nacional.
São 543 páginas, mas não se assuste, pois o tamanho delas é a metade do que normalmente se consome nos demais livros. Se mais não falo sobre a obra, que seja para por um motivo justo: ler já sabendo o que vai encontrar, não tem a menor graça.