segunda-feira, 11 de julho de 2011

A ENCANTADORA DE CÃES

Esta é uma história interessante, pra cachorro! Tudo começou quando veterinária Deise Lizi foi demitida pela Secretaria de Saúde do DF, no final do ano passado. Desempregada, ela mandou imprimir alguns cartazes e cartões, e pediu um “help” à irmã Débora, de 16, e à vizinha Carol, de 17 anos, para divulgar os seus préstimos. Antes disso, na academia onde faz ginástica, ou nas baladas, lá estava ela, entre uma dança e uma contradança, sempre oferecendo o seu cartãozinho aos presentes ao recinto. Mal sobrava tempo para o namorado afagar-lhe as suas lisas e longas madeixas loiras.
Gaúcha peleadora, desde que nasceu, em Porto Alegre, há 30 anos, a Miss Lizi – como os amigos betlemaníacos a chamam, numa alusão à música do mesmo nome –, não podia ver ninguém passeando com um cachorro. Rápida, como os raios que espoucam durante os invernos dos pampas, ela chegava junto. Descia do carro e surpreendia o transeunte, “apresentando armas”, isto é, os seus divulgativos. “Imagine três garotas chegando, assim, de repente, abordando as pessoas! Era até engraçado”, considera a veterinário.
O mais engraçado, porém, foi o que ocorreu quando a Miss Lizi não pode sair junto com as duas “fiéis escudeiras”. Pediu-lhes para extenderem o raio de ação além de pet shops, supermercados, farmácias, postos de gasolina, itens assim, e darem um rolé por onde os cãos fazem xixi – árvores, alambrados, por aí. Foi então que as ajudantes de divulgação não perdoaram nem os postes. Ao ser informada, Deise Lizi avisou-lhes que elas haviam acabado de cometer um ilícito, e pediu-lhes para retirarem tudo, imediatamente, pois era proibido afixar cartazes em edificações estatais localizadas em logradouros públicos. Só que, devido ao adiantado da hora em que a comunicação se dera, as adolescntes deixaram tudo para o outro dia. E como o “outro dia’ das meninas levou mais uns dois ou três dias, aquele tempo foi suficiente para uma clientela se formar. Vários “leitores postais” telefonaram, marcaram consultas e descobriram nela uma verdadeira encantadora de cães.
Hoje, circulando com o seu consultório no porta-malas do seu carro, a Miss Lizia não reclama mais da demissão na agência estatal onde servia até o começo do janeiro passado. Já pode, até, dar uma escapadinha, de uma semana, para Nova York, onde assoprou as velinhas alusivas a mais uma das suas “jubilosas efemérides”, cantando o multinacionalíssimo “Hapy birth day to you”, em vez do abrasileiradíssimo “Parabéns pra você”.
A VETERINÁRIA QUE ENTROU NUMA FRIA - Deise Lizi cursou veterinária, entre 2000 e 2007. Já pós-graduada, na área de clínica e cirurgia de pequenos animais, ela já se prepara para ir mais além. Vai cursar uma pós de dermatologia. “Desde criança eu era ligadona em animais e fazendas”, cita ele que, aos três anos de idade, pelo Natal, foi presenteada com um pastor belga, o Pirata, que também trocou os rincões gaúchos pelo Planalto Central, junto com a família de um funcionário público, quando ela tinha cinco anos. Quando universitária, Deise Lizi pretendia cuidar só de bovinos. Mas, como curtia muito os danadinhos dos “totós”, terminou mesmo foi bandeando-se para a área dos pequenos animais, que inclui gatinhos e gatões, “como o meu namorado”, brinca.
A vida profissional da Miss Lizi começou com uma tremenda gelada. O proprietário de uma clínica de muita tradição, em Brasília, com grande clientela, precisou viajar e deixou-a tomando conta do estabelecimento. De cara, ela deparou-se com a desavença entre um pit-bull e um pastor alemão. “A cliente chegou desesperada, passando-me uma terrível tensão”, recorda. Depois, rolou uma briga entre um quati e um rotweiler, numa chácara. Ficou das 11 às 16h suturando o cão. “Os colegas me sacaneavam, dizendo, “depois piora”, e piorou mesmo. Veio-me o caso de um atropelamento de um poodle”, fato que não gosta de falar.
O caso mais inusitado que chegou à Miss Lizi foi o de um cachorrinho, de seis meses, que comera chumbinhos para matar ratos. Ela o recebeu bem debilitado, o internou e levou quatro dias para salvá-lo. Dias depois da alta e de o “totó” já estar se alimentando noral, o proprietário avisou-lhe que perdera o animal “Muito danado, ele tentou pular sobre uma vala na chácara, mas não deu conta”.
RECEITA - Depois de ter passado por duas clínicas, Deiz Lizi chefiou o departamento de pequenos animais da Zoonose do DF, onde conheceu a burocracia estatal e a maldade dos criadores. No primeiro caso, via a papelada impedindo-lhe resolver o que deveria ser para ontem. No segundo, pessoas abandonando seus cães no canil público, por problemas de saúde, velhice. “Alguns alegavam estarem se mudando para apartamento. Então, a Zoonose ficava mal vista, como matadouro de cães, quando, na verdade, os proprietários era quem levavam a este caminho”, critica.
Para Deise Lizi, a veterinária vem tendo um bom mercado em Brasília. Ela recomenda especialização aos novos profissionais que saem das faculdades. E avisa: “Nada de vaidades ou dificuldades”. Em suma, para não sumir da praça: quando precisa fechar um diagnóstico, na dúvida, nada demais consultar colegas mais experientes. Da mesma forma, se levantar na madrugada fria, sem reclamar, e sair correndo para atender aos apavorados cinófilos que telefonam.
Obs: texto escrito por meu marido, Gustavo Mariani, para o Jornal de Brasília de..

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