quinta-feira, 10 de novembro de 2022

MEU NOME É GAL! ASSIM SE APRESENTVA A MINHA VENDEDORA DE DISCOS LÁ NA BAHIA

 Comprei todos os discos dela e muito me vendidos diretamente por ela. Só não comprei com ela os que foram cantados por ela

                              REPRODUÇÃO DO ARQUIVO DO JORNAL DE BRSÍLIA              

 Carto dia, surgiu um sujeito, em minha terra, na Bahia-Oeste, pra montar um cinema. Tratou de tudo, menos de legalizar a coisa. No dia da estreia, ele recebeu a visita de um agente da Prefeitura Municipal, convidando-o a visitá-lo e a pagar a taxa de instalação do negócio. Desconcertado, o homem o indagou: “Quem é o senhor?”. E ouviu: “Meu nome é Gal!”

Algum tempo depois, eu estava na Feira do Disco, a mais importante loja musical da Bahia, na Praça da Sé, e era atendido por uma moça educadíssima. Quando eu ia embora, de tão encantado que ficara pela sua meiguice, indaguei-lhe pelo seu nome. E ela respondeu: “Meu nome é Gal”.

 Então! O primeiro Gal da minha vida fora um secretário de finanças municipais, Gaudêncio Serbeto; o segundo, uma balconista de loja de discos, Maria da Graça Costa Pena Burgos. Eu ia muito na Feira dos Discos comprar os compactos simples (de vinil) dos últimos lançamentos do iê-iê-iê daquelas metades da décadas-1960 de Salvador. Num dos sábados, quando a loja lotava para a moçada gastar a sua mesada comprando discos de Roberto, Erasmo, Renato e Seus Blue Caps, The Brazilian Bitles, Jerry Adriani, etc o gerente das casa, o Seu Edvaldo, avisou que a “Maria da Graça iria participar de um show, pelo final da tarde, no Teatro Vila Velha”. 

                                                REPRODUÇÃO DO TWEET @juliana GRITA 

Gal e a amiga Maricotinha que virou Maria Bethânia 

Vila, como os baianos o chamavam, era um prediozinho mixuruca, na Avenida Sete, perto da Praça da Sé. Com certeza, a Gal deve ter encerrado o seu expediente daquele sábado e caminhado até o dito cujo, para participar do show. Por aquela época, os cantores e conjuntos (hoje, bandas) iniciantes da Bahia, além do Vila, poderiam se apresentavam, também, no Cine Teatro Nazaré, durante as Sabatinas da Alegria, transmitidas pela Rádio Sociedade da Bahia e a TV Itapuan.

 E rolou o show. Quase caí ao chão, impressionado pela voz meiga, macia, da minha vendedora de discos. Nunca ouvira um timbre daqueles, tão agradável. Até então, o que as rádios da Bahia tocavam eram cantoras de peito vibrante, voz forte, como Ângela Maria, Helena de Lima, Rosana Toledo, Elza Laranjeira, Isaurinha Garcia, já bem rodadas. Da turma jovem, Wanderléa, Martinha, Vanusa, Rosemary e Nara Leão não emplacavam muito entre a juventude baiana. A italiana Rita Pavone, com a sua gritaria graviníssima, emplacava bem mais. Até ficar bem menos depois que a Gal apresentou naquele seu primeiro show no Vila a sua grande amiga Maricotinha. Quem? Maria Betânia (no futuro), para todo o país, e Beta, para os baianos.

 Como a amizade de Gal com a Beta era grande demais, a primeira gravação da ex-balconista de loja de discos foi estreia discográfica de Maria Bethânia, em 1965. O primeiro compacto teve “Eu vim da Bahia, de Gilberto Gil, e “Sim, foi você”, de Caetano Veloso, lançados pela RCA, atual Sony/BMG). Evidentemente, os comprei, na Feira dos Discos, onde uma lei da Bahia (toda Maria das Graças é Gal) só não valia para Seu Edvaldo, que falava para a sua freguesia: “A Maria da Graça está arrasando”.

Depois que tornei-me jornalista, por conta da Gal, cometi uma das maiores incompetências da minha carreira: nunca procurei saber se a empregada Maria da Graça Costa Pena Burgos pedira demissão da Feira dos Discos, ou se, um dia, não aparecera mais para trabalhar. Jamais saberemos, pois as loja  não existe mais

Em 1968, vivi o meu último tempo de moradia na Bahia. Ainda tive temo de comprar, na Feira do Disco, evidentemente, o LP (disco de vinil com 12 a 14 músicas) “Tropicália/Panis et Circenis”, da qual a Gal participava. O comprei, diretamente, das mãos do Seu Edvaldo. Por aquela mesma temporada, ela gravou o seu primeiro disco solo, mas que o selo Philips só lançou em março de 1969, quando eu já residia e o comprei em Brasília, onde comprei, também, todos os demais que ela gravou – todos mesmo, sem faltar um. 

De uma otua vez, novamente, por casua dela, vivi a mais incrível história da minha vida de rapaz namorador, ali pelos meus 23 de idade. Eu era apaixonadíssimo pela minha prima Cláudia, que era, também, fanzaça da Gal. Assistíamos a um programa de TV, algo como uma retrospectiva do Tropicalismo. Lá pelas tantas, o narador falando dos “desbundados baianos" – leia-se "porraloquices" - e aparecia a Gal sentada em um banquinho, tocando violão e cantando com as pernas abertas, mostrando a calcinha branca - tempos depois, em uma entrevista, ele me disse estar usando biquini por baixo da roupa.

   FOTOS DIVULGAÇÃO DO SHOW FATAL-1973
  
Uma desbundante posição ao violão

Meu rei! A prima Cláudia ficou indignada e disse-me: “Gosto muito da Gal, mas não se assanhe muito, não, viu!”. Dias depois, quando ela estava de volta para a Bahia, presenteei-lhe com toda a minha coleção de LPs da conterrânea.  Achei que eu estava arrasando. Mas não foi que a moça reclamou a falta de um! Faltava, mesmo, o que trazia na capa corpo do umbigo para baixo e um biquinininho vermelho - baianíssimo tropicalíssimo! Dentro do álbum, havia foto da Gal com os seios à mostra, sobre o qual consegui um autógrafo, tempos depois. 

prima-namorada jamais conseguiu confiscar-me, em quase 20 yeasr de namoro, o tal do LP da Gal sexyssima. Nem a minha mulher - casei-me com uma outra. De vez em sempre, o escuto, em minha radiola, como os baianos chamam aparelho de som, e a minha parcera pergunta. "Porque você gosta tanto deste disco?" - ou não seria da capa do disco? Pena que o álbum não tenha Meu nome é Gal, pra eu disfarçar em melhor nivel sobre a minha música a predileta - predileta, também, em parte, por causa do Seu Gal, a fera das finanças públicas municipais.

                                                        CAPA DO LP ÍNDIA-1973 




                    

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