segunda-feira, 14 de março de 2022

MULHER NOTA 10 DO JORNAL DE BRASÍLIA

Durante o primeiro semestre de 1977, eu estava no plenário do Senado, cobrindo homenagem ao Pelé. Ele chegou e subiu à tribuna, no que foi  criticado, sem que lhe dissessem ser ali local exclusivo para discursos parlamentares. Era a tarde em que o Rei do Futebol disse a frase “o povo não sabe votar”. Rápido, os jornalistas de Brasília, metidos a intelectuais e de esquerda (nos botecos), o criticaram.

 Antes do discurso, eu e a repórter Marilena Chiarelli, da TV Globo, havíamos falado com o Pelé, no gabinete do líder senatorial Eurico Rezende, da então ARENA-Aliança Renovadora Nacional. Depois da fala, o Rei voltou  ao local e eu, na brincadeira, disse-lhe:

- Pelé! Você está certo: o povo não sabe votar, mesmo, não! Aliás, eu acho que o povo nem deveria votar.

Ele e o senador Rezende-ES sorriram da minha caçoada e o fotógrafo Nilton Guaran, do Jornal de Brasília, clicou aquele momento, do qual ainda tenho a foto. No dia seguinte, choveram paulada no Pelé, pelos jornais. Seus assessores tentaram arrumar a coisa, fazer colar que não fora bem aquilo que ele falara, mas não colou.  Pelé, no entanto,  estava certo. Basta pesquisar a história do voto brazuca de 1977 para cá. Só para citar poucos exemplos: votou-se em deputado que escondeu dólares na cueca; em partido que dilapidou cofres públicos e em “anões” que manipulavam emendas parlamentares e desviavam grana via entidades sociais fantasmas, ou com a ajuda de empreiteiras.

  Sempre que o Pelé vinha a Brasília eu o acompanhava, como repórter do Jornal de Brasília e da Rádio Nacional de Brasília. Quando ministro do Esporte, no Governo Fernando Henrique Cardoso (1995 a 2003), havia sempre algo para eu cobrir, com a presença dele. Terminamos ficando com um bom relacionamento. Certa vez, como ele iria passar o final de semana na cidade, por ter compromissos de aparecer ao lado do FHC em duas solenidades, o convidei para o aniversário do meu filho. Armei um festão, em um final de tarde/início de noite, sem esperar que ele aparecesse. Mas, quando a turma se preparava pra cantar, o parabéns pra você, ele pintou na área, juntamente com o Nílton Santos, que era o professor do meu filho na escolinha de futebol que tocava para o governo do Distrito Federal -  fora seu companheiro na Seleção Brasileira. E ajudou a cantar o parabéns, com a sua voz de tenor sobressaindo-se sobre a da meninada.

 Durante o mesmo Governo FHC, com o Pelé ministro, era vésperas do Dia das Mães e uma butique brasiliense queria fazer um anúncio, no Jornal de Brasília, com o tema “Mulher Nota 10”, mirando-se no filme, de 1979, com Bo Derek no papel principal. Então, o Marcelo (Marcelinho) Moura, que iria montar a peça publicitária, alegando que eu tinha bom relacionamento com o Rei, sugeriu-me pedir-lhe uma camisa 10 emprestada pra fazer a foto, que teria por modelo a minha mulher, que fazia muitos anúncios para o Departamento de Publicidade do  JBr. Para a minha surpresa, o ministro Pelé não emprestou só uma camisa 10 que ele vestira em antigas jornadas pelos gramados, mas duas: uma do Santos e a outra da Seleção Brasileira, daquelas antigonas, de algodão grosso, dos tempos em que o futebol era Nota 10. Confira como ficou o anúncio.   

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