Se fosse treinada nos dias atuais, muito provavelmente, a nadadora carioca Piedade Coutinho estaria entre as primeiras do planeta. Pena que a natação desse país fosse tão rudimentar. Para se ter uma ideia, já tendo boa experiência internacional, ela foi avisada, em cima da hora, de que deveria ir a Buenos Aires disputar os Jogo Pan-Americanos. Sem preparo algum, foi e voltou com a medalha de bronze dos 400 metros e nos 4 x 100 metros livres, enfrentando adversárias de 21 países, já com 31 de idade.
Era
1951 e, só então, Piedade Coutinho sentia-se sabendo dominar a água. Até então,
lutava contra o meio líquido, gastando energia para vencer a sua resistência.
Faltava-lhe treinadores capazes de ensinar-lhe deslizar, flutuar na piscina,
com facilidade. O que não a impediu de chegar a
três finais olímpicas.
Levada para as águas pelo treinador
Irineu Ramos Gomes, em 1934, quando o
Clube de Regatas Guanabara surgia, ela estreou no Campeonato Brasileiro de
1935, aos 15 de idade. Pelo mesmo período, disputou o Campeonato Sul-Americano,
no Rio de Janeiro, o primeiro com participação feminina. Por ali, o Brasil só
tinha uma mulher fera na água, Maria Lenk que, em 1932, fora a primeira
sul-americana a disputar os Jogos Olímpicos - estava, ainda, desenvolvendo nado
peito, tirando os braços da água, para dar origem ao nado borboleta.
Durante os Jogos de Berlim, em 1936, aos 16 de
idade, a “Filhinha” tornou-se a primeira brazuca
finalista de uma prova olímpica em piscinas. Voltou com o quinto lugar dos 400
metros livres, no tempo de 5 minutos, 35 segundos e 5 décimos, marca só
superada por brasileiras - Joana Maranhão, em 2004 – 68 temporadas depois.
Entusiasmado pelas braçadas daquela menina terrível, o jornal O Globo publicou, com ela, a primeira
telefoto de um diário noticioso brasileiro.
Em três temporadas, Piedade Coutinho cravou
(1937) a terceira melhor marca mundial dos 400 m livres. Em 1938, batia dois
recordes sul-americanos em nado livre. Em 1940, quebrou a marca continental dos
500, 800, 1,000 e .1.500 metros livres. Veio 1941 e ela foi ao Campeonato
Brasileiro fazer 1m08s5 nos 100 metros livres, um dos principais índices
mundiais, mesmo sem ela ser especialista na prova, o eu valeu-lhe ir às
Olimpíadas de Berlim – ainda foi à de Helsinque-1948, na Finlândia. No mesmo
1941, no Sul-Americano de Viña del Mar, no Chile, só ele totalizou 50,5 dos 174
pontos somados pela equipe feminina brasileira campeã.
Aos 28 de idade, 1941, Piedade Coutinho já era
considerada velha para a natação. Então, parou, casou-se e teve um filho. Mas
não suportou ser peixe fora d´água. Voltou
a nadar, em 1943, e aa ganhar medalhas brasileiras, sul-americanas e quebrando
marcas. Foi às Olimpíadas-1948, na
inglesa Londres, conseguindo disputar duas finais, terminando em sexto nos 400
metros livre e sexto nos 4 × 100 metros livre, prova na qual havia cravão,
antes, 5m20s3, que lhe dariam a medalha de prata, talvez, não obtida devido a
dureza das travessia do Atlântico, em navio, quando passou vários dias sem treinar
e tendo uma má alimentação. Além do mais, seu alojamento londrino foi muito
precário.
Mesmo com todas as suas glórias
internacionais, a que mais emoção transmitiu a Piedade Coutinho foi de uma
prova local, a da sua estreia, quando encarou a nadadora mais veloz do Rio de
Janeiro, a sereia Jane Braga, do
Clube Icaraí. Ela jamais esqueceu de ver a sua mãe atirar o chapéu dentro
d´água, quando ela bateu a mão vencedora na bora a piscina. Quem estava
presente, não acreditava naquele feito.
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