Mas esse pouco não é só de
agora. Ao longo da história política brasileira, os paraíbanos estiveram,
sempre, entre os menos favorecidos. Mas não deixaram de formar elite rural, a cargo dos ricos que apoiavam o Império dos Orleans e Bragança, desde que D. Pedro
I lhes garantisse a posse da terra e a mão de obra escrava - com o que não alinharam Pará, Maranhão, Piauí, Bahia e a Provincia Cisplatina (hoje,
Uruguai), quando o país tornou-se independente de Portugal.
A elite rural
paraibana, no entanto, não via o mundo só por olhos que se limitavam às suas cercas, embora,
até 1784, ela fosse repressora, de maneira que, para uma esposa visitar uma amiga, teria de pedir autorização ao
marido. Autorizadas, vestiam-se à francesa, exagerando nos babados
que lhes desciam à cintura. Não dispensavam chapéus com plumas e nem saias
com molas de aço. Suas roupas não deixavam os pés à mostra, pois mostrá-los
seria vergonhoso para maridos ricos ques mandavam empregados
carregarem-nas em redes, para não serem vistas, publicamente. Chegadas ao
destino, sentavam em tapetes nas salas das mulheres – havia, também, a sala dos
homens - e assim se comportarem até 1852, quando ainda lhes eras negado reclamar, protestar,
xingar, ou mesmo pensar, ler e escrever. Direitos só de rezar e cozinhar.
Mesmo presas a tais amarras sociais, mulheres da elite paraibana tiveram educação esmerada, sobretudo as do século 19, quando as suas ricas famílias de fazendeiros as encaminhavam para estudar na Europa, de onde voltavam poliglotas, dominando algum instrumento musical e deixando incrédulos entendidos em peças dos grandes mestres. Muitas das invejáveis mulheres paraibanas tornaram-se “primeiras-dama “e tiveram papel social relavante durante os governos dos maridos.
Entre tantas dessas mulheres, não se pode esquecer de Amélia Machado Coelho da Costa, dedicada à caridade e aos estudos da música e da numismática; Amanda Brancante Machado, exímia pianista que tocava Abdon Milanez e Carlos Gomes à perfeição; Maria Isabel Fogueira Machado, que estudou na Alemanha e falava, fluentemente, além do alemão, o francês, e era, também, exímia pianista, perfeita executante de Carlos Gomes e de Artur Napoleão; Alice de Almeida Carneiro, que vivia com o povo, criando maternidades, hospitais, apoiando a mãe pobre e instituíndo a merenda escolar nas escolas primárias; Ana Alice de Melo Almeida, que desenvolveu programas sociais de gande dimensão dentro da LBA-Legião Brasileira de Assistência, tendo por isso sido adorada pelas camadas mais pobres da população paraibana a quem entregou hospitais, creches, casas de apoio à criança e, também, por atuar no enfrentamento às calamidades públicas; Sílvia Tinoco Marques Godim, que cursou mestrado na Inglaterra para trabalhar no Departamento de Letras da Universidade Federal da Paraíba, além de evitar, na LBA, fazer política paliativa de caridade.
Foram brilhantes, tambem, Berenice Coutinho, Mirtes Sobreira, Lourdes Cavcalcanti, Lucia Navarro, Miriam Cabral e Maria Luiza Targino, damas de fino trato e devotado amor pela causa social. Duas outras destascadas primeiras-damas foram cariocas, pois era comum parlamentares paraibanos (do Império e da República) casarem-se com moças de famílias do Rio de Janeiro, casos, por exemplo, de Mary Pessoa e de Judith Caruzo Gomes, que vestiram a camisa da Paraíba e prestaram grandes serviços sociais ao seu povo.
Judith Caruzzo foi o que se pode chamar de a "Anita “Garibaldi paraíbana". Sempre ao lado do marido, como as mulhers de Atenas, ao casasr-se com o médico e futuro governador paraibano José Gomes da Silva, ela trocou a praia e todas as festividades do Rio de Juaneiro para, em 1930, lutar ao lado do marido-chefe político de Itaporanga, contra a temível coluna do coronel José Pereira Lima, rebelado ccontra o governo estadual. O Gomes da Silva, que ainda não era o líoder estadual, mas apoiador do governador João Pessoa, levantou o seu povo em armas e sustentou luta, de cinco horas, até expulsar os rebeldes. Judith foi para o front da batalha levar alimentação aos que lutavam e, ainda, atuouo como enfermeira. Foi guerreira, também, em 1932, lutando contra terrível estiagem que assolou a Paraíba, não se intimidando contra as agruras do tempo para minorar o sofrimento dos flagelados.
Mais recentemente, uma outra brilhante “primeira dama” paraibana foi Glauce Burity, fazedora de grandes trabalhos sociais e sempre dizendo que "não lutava pelos menos favorecidos por piedade, mas porque era preciso combater tudo o que fazia o país dormir na pobreza". Intelectual respeitada, produziu vários trabalhos sociológicos elogiados, entre eles sobre a mulher na obra sociológica de Gilberto Freyre; a presença dos franceses na Paraíba e o menor no trabalho na Paraíba. Criou a Campanha de Assistência ao Menor Carente e não deixou que esta tomasse sentido assistencialista. Também, cursou mestrado em História e aprimorou-se em língua francesa, em Genebra, na Suiça, quando por lá morou e o marido fazia aprimoramento em Medicina.
Estado pobre, no entanto, a
Paraíba jamais teve “primeiras damas”
dondocas, barbies e nem deslumbradas
que corriam para pósasr em fotos ao lado do cantor brega espanhol Julio Iglesias.
Também, nuca foram “eminência parda” de governos dos maridos, como uma que
desagradava a todo o regime militar e, pra piorar, obrigou um general-presidente
a lançar o odiadíssimo Paulo Maluf na política – viva as mulheres da Paraíba!
1 - FOTOS REPRODUZIDAS DE LIVRO LANÇADO PELO CENTRO GRÁFICO DO SENADO
2 - Este texto foi publicado, também, pelo Jornal de Brasília. Link abaixo:
https://jornaldebrasilia.com.
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