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PRIMEIRAS MULHERES ESPORTIVAS
Publicado
pelo Jornal de Brasília de 20.01.2014
A
organização e a participação em provas esportivas no Brasil, nos inícios
do século 20, era compreendida como algo inerente ao sexo masculino. Mesmo
assim, a mulher tirou a sua "beiradinha", ajudando a criar,
com o seu comparecimento, o pretendido (pelos homens) ambiente familiar
e saudável buscado nas competições. O esporte foi abrindo caminhos para
elas se libertarem, no futuro, de muitas amarras.
Das
primeiras modalidades chegadas ao país – touradas e turfe –, a mulher
nem tinham como praticá-las. Até o homem pouco se esforçava, o que ficava
mais por conta dos animais. Vieram no rastro, entre outras práticas,
remo, atletismo, ciclismo, natação. Esta última colaborou, exatamente,
para tirá-la do meio do público e jogá-la nas águas. De início, nadar um
exercício higiênico e dava segurança nos banhos de mar. Em 1877, já
havia entidade (Club de Boiton) oferecendo-a, bem estruturada. Houve,
também, o caso de uma livraria carioca (Laemert) traduzindo o francês
"Manual da Arte de Nadar", para ser um sucesso de vendas.
Como
já existia o remo na chegada da natação ao Brasil, as duas modalidades
se atrelaram e os primeiros grandes nadadores foram remadores, que
disputaram até campeonato chamado de "Brasileiros", em 1898 –
Abrahão Saliture foi o primeiro vencedor, nadando entre o Forte de
Villegaignon e a praia de Santa Luzia, no Rio de Janeiro, com prova
organizada pelo Clube de Natação e Regatas.
O
surgimento da Federação Brasileira de Sociedades de Remo, em 1902, foi
uma graça para as mulheres. Passando a organizar as disputas de natação, oito
anos depois, a entidade proporcionou-lhe a participação, levando a
história a registrar os nomes das nossas primeiras grandes nadadoras –
Blanche Pironnet, Anésia Coelho, Alice Possolo, Maria Lenk, Helena
Salles e Piedade Coutinho, entre outras.
Nem
só de natação "pioneiraram" as primeiras brasileiras
desportivas. Registra-se, também, a participação delas no atletismo, chamado
de "jogos atléticos ingleses" e nas "corridas a pé",
que requeriam pernas-de-pau e saco de estopas. Brincadeiras! Lançadas,
evidentemente, pelos ingleses, criadores de associações esportivas, como
em sua terra, enquanto, por aqui, comerciavam ou representavam o seu governo.
Em 1880, o Rio Cricket Clube (futuro Paissandu Cricket Club) organizou
as primeiras provas masculinas, na Rua Paisasandu, no Rio. Os paulistas
chamavam a modalidade de "pedestrianismo" e já tinham, pela
mesma época, o São Paulo Criecket Club.
CICLISMO
- Já que saíram-se bem nas braçadas, as mulheres fariam o mesmo com os
pedais? Data do final da década-1860 a chegada das primeiras bicicletas
ao país, com crescimento de importações a partir de 1890. São Paulo
organizou as primeiras corridas masculinas. O Rio de Janeiro teve o seu
primeiro velódromo em 1896, um ano depois de Porto Alegre. Foi pequena, no
entanto, a participação competitiva feminina. Houve só uma disputa, pois
a modalidade era considerada "masculiníssima". À mulher coube
mais o embelezamento do ambiente, como ocorrera durante os primeiros
páreos do turfe e das regatas remeiras.
Criado
em 1897, o Frontão Velocipédico Fluminense (as bicicletas nos chegaram
chamadas de velocípedes) foi o único a levar a mulher à pista de um
velódromo. Variando tipos de corridas, por uma delas colocava um casal em
cada bicicleta.
Fora
da competição, o clclismo recreativo despertou na mulher da elite a
curiosidade pelas roupas usadas pelas franceses quando se punham a pedalar.
Por isso, período chegou a ter coluna específica sobre tal modismo – o
Rio de Janeiro tinha um periódico chamado "O Ciclismo".
Se o
ciclismo competitivo era considerado pouco feminino, o que não dizer do
boxe e da luta romana? Pois as brasileiras entraram nesta, também. Eram em
circos, ou em ambientes de patinação, ao final do século 19, que se
davam as primeira lutas boxeantes masculinas. Regras bem definidas só lá
por "1920-e-tantos". Em São Paulo, a luta romana rolava em
velódromo.
As
primeiras lutas femininas no Brasil foram em 1910, disputadas no Teatro
São Pedro de Alcântara, no Rio de Janeiro. Aproveitou-se uma temporada de um
grupo musical feminino (Mirales) e os pegas foram entre estrangeiras,
com a participação das paulistas Anita e Nenê.
Se
os remadores contaram com a divulgação de "A Canoagem" e os
ciclistas de "A Bicicleta" e "O Ciclismo", as lutas
tiveram, também, o seu periódico: a "Revista de Theatro e Sport". A
modalidade ganhou espaço, ainda, na "Revista da Semana" e na
"Fon-Fon", com direito a fotografia das lutadoras exibindo as
suas pernas. Além de elogios aos modelitos dos maiôs – naqueles tempos
tão recatados, já havia repórter assanhadinho!
Havia
modalidades, modalidades, também, mais aceitáveis para as mulheres.
Portadoras até de status social e complementares à educação delas, caso da
esgrima, chegada por aqui desde o século 19, praticada pelos homens em
estabelecimentos militares e em escolas de elite. As primeiras aulas
particulares datam de 1860, mas as mulheres só começaram a pegar no
sabre a partir de 1868, no Clube Ginástico Português do Rio de Janeiro.
São Paulo aderiu à moda ao final do século 19, e promoveu o primeiro
campeonato organizado, em 1902. A elas era permitido disputas privadas,
mas em competições públicas só podiam assistir.
Ao
contrário da esgrima, no hipismo, chegado ao Rio de Janeiro na primeira
metade século 19, as mulheres subiram na cela dos cavalos sem contestações –
nos inícios do século passado já havia muitas competições no Rio de
Janeiro e três centros hípicos. Pelo mesmo período vintentista,
disputavam provas de tiro, iniciadas pelos sulistas, como caça, desde
1830, no Rio de Janeiro. As revistas cariocas adoravam publicar fotos de
mulheres elegantemente vestidas para atirar. "O Malho", em
1906, chegava a exagerar. Além de chamá-las de peritas atiradoras, ia
muito mais longe. Afirmava que o "desenvolvimento desse esporte
feminino era valioso para a defesa da pátria e do lar".
66 -
MULHER & PRECONCEITO
Publicado
pelo Jornal de Brasília de 04.11.2013
Há
quem pense que a discriminação do nosso futebol contra as mulheres que
posaram nuas para as chamadas "revistas masculinas" só atingiu a
juíza Ana Paula, que vinha fazendo sucesso, mais como auxiliar de
arbitragem (bandeirinha).
Ana
Paula Oliveira, nascida em São Miguel Paulista, posou nua, em 2007, e
perdeu espaço nos gramados paulistas. Sem apito, em 2009, participou do
programa de TV "A Fazenda-2" e foi a primeira eliminada. A seguir,
passou a repórter do programa "Esporte Fantástico" e
comentaristas esportiva da Record. Em 2011, voltou para "A
Fazenda-4". Do ano passado par cá, participou do programa
"Alterosa no Ataque", do "SBT-BH". Tem aparecido, também,
em vários programas televisivos.
Ana
começou a lidar com arbitragens aos 14 anosa, como bandeirinha do pai em
jogos amadores. Em 2001, fez o seu primeiro jogo da série A-1 do
Campeonato Paulista. Em 2003, foi a primeira mulher a apitar uma final
paulista. Algumas decisões polêmicas, a partir de 2006, porém, levaram à
queda na profissão.
A sua decisão de posar nua surpreendeu muitos cartolas, que apostavam em
seu futuro no apito, por ter sido, em 2004, a grande revelação da
arbitragem dos Jogos Olímpicos de Athenas 2004. Na "Playboy",
foram 13 fotos clicadas por J. R. Duran, sem relação com o futebol. Na
época, o presidente da Comissão de Arbitragem da Confederação Brasileira
de Futebol (CBF), Edson Rezende, não viu nada que pudesse,
profissionalmente, ajuda-la na carreira. Mas não a puniu, reconhecendo
que era um direito de Ana posar como bem entendesse. No entanto, na
arbitragem paulista ela chegou a ser afastada.
Voltando
ao primeiro parágrafo, a primeira vitima do preconceito masculino contra
o nua feminino nas revistas foi a árbitra Vânia Lúcia de Moraes, que
trabalhava, também, como modelo fotográfico, desfilando pelas passarelas,
além das quatro linhas do gramado. Ela não teve a sorte de Ana Paula,
que só perdeu terreno. Vânia, por posar como veio ao mundo, para o Nº
.1771, de 29 de março e 1986, da revista carioca Ele&Ela, do grupo
Adolph Bloch - 21 anos antes de Ana Paula –, encontrou cartolas muito
mais preconceituosos. comandando a Federação de Futebol do Estado do Rio
de Janeiro. Eles a excluíram, ela recorreu da decisão, mas perdeu tempo.
O machismo era mais forte e inapelável. Para os responsáveis pelas
arbitragens nos estádios do Rio de Janeiro, a árbitra Vânia Lúcia havia
"denegrido a imagem do futebol carioca". Pela revista "Manchete",
ela respondeu que era " moralmente hipócrita me excluir por isso
(posar nua)".
O
preconceito não existe mais. Tanto que várias atletas já fizeram o mesmo
que Vânia, casos, entre outros, de Sueli dos Santos (atletismo); Hortência
(basquete); Vanessa Menga (tênis). Mary Paraíba (vôlei). Em nada
prejudica imagem e nem o nível técnico e moral das modalidades que
praticavam. Razão de não terem sido punidas. Esquisitamente, quem foi
punido chamou-se Roger, então goleiro do São Paulo, que desagradou ao
treinador Paulo César Carpegiani, por mostrar-se pelado para uma revista
dedicada ao público homossexual.
Hoje,
atletas - homens e mulheres - posam par calendários sexy sem problemas.
Os cartolas preconceituosos perderam este jogo.