MÁQUINA DE B RASÍLIA
Eu e o colega Octávio Bonfim tínhamos três dias de folgas acumulados no Jornal de Brasília e, como aquele, com quem eu fazia a coluna Decálogo (notas que a gente catava no Congresso Nacional e nos Ministérios) convidou-me para ir a uma festa em um clube da Tijuca – acho que Tijuca Atlético Clube -, negociamos, com o editor do Caderno de Leituras, Cláudio Lysias, ir ao Rio de Janeiro fazer uma página sobre o atentado a Carlos Lacerda, em 195.., do qual o “Bonfa” quase foi testemunha – depois conto este barato – para só voltarmos na noite de terça-feira.
Viajamos noite da sexta-feira e à tiracolo levamos junto as nossas esposas – Maria (minha) e Mary Ann, a norte-americana resultante dos 13 years que o “Bonfa” passara em Washington sendo correspondente do carioca Jornal do Brasil. Como a segunda-feira seria um feriado, deixamos para fazer a matéria na terça. Nos hospedamos na casa de um irmão do Bonfim e, no sábado, enquanto as nossas mulheres saíram com a cunhada do meu colega para irem a cabelereiro, eu e ele passamos o dia calorento nos vingando dos filamentos de mercúrio dos termômetros mais bebendo cerveja do que o que o resto. À noite, ele tinha visita a fazer à casa da sua grande amiga Martha Rocha - primeira Miss Brasil, em 1954 -,amizade surgida quando o “Bonfa” fora o assessor da revista O Cruzeiro durante os dias que antecederam o concurso. Inclusive, fora dele a ideia de a baiana dizer durante a entrevista com as candidatas que era fã do poeta ...., que estava no júri.
Durante a visita, a visitada fora muito simpática,
achara a Maria “linda”, como a definira, e eu a informei de que ela, também, havia
sido miss - Maranhão do Sul. Os maranhenses
do sul tentam dividir o Estado, como
Mato Grosso o foi, e lutam para que o projeto do Senador Edson Lobão seja
aprovado no Congresso Nacional -, também,
Garota Verão do Rio Tocantins, em uma
dessas programações de verão, desfilara modas, em sua cidade – Carolina – e mordia uma graninha
como garota-propaganda do Departamento de Publicidade e Arte do Jornal
de Brasília. Rolou uma boa empatia entre as duas - aa Martha já era velha
amiga da Mary Ann.
No domingo, pela manhã, fomos para a festa, da
Martha Rocha era uma das patronesses do “Domingo Rubroanil”, o nome da festa beneficente
do Tijuca Atlético, ou Tênis Clube, em
prol de lar de velhinhos do bairro. As mulheres compravam bustier de uma das duas
cores e os homes camisetas. Como a Mari
Ann escolhera o vermelho – escolhido, também, pela Martha - a Maria ficou com o
azul.
Enquanto as programações rolavam,
eu e o “Bonfa” desaparecemos das nossas
mulheres, “em benefício de geladinhos copos de chope” que comprávamos assim que
um terminava – o irmão dele bebeu um copinho (e olhe lá), mas nós bebemos por ele.
Além de Martha Rocha outros famosos participaram da festa, atraindo tijucanos –
entre os que me lembro, os cantores Carlos José, que tinha “Queria” por um dos
seus grandes sucessos e cantou na festa, Carminha Mascarenhas, uma das Rainhas do
Rádio, e o radialista José Messias, autor de “Minha História de Amor” , um dos
maiores sucessos dos inicios de Roberto Carlos nos tempos do iê-iê-Iê.
Lá pelas quatro, cinco da tarde
quando a moçada debandava, eu acionei a
minha câmera ... comprada na alemã Stuttgart, munida de teleobjetiva, grande moda
na época, e fui fotografando a Mary Ann,
a cunhada do Bonfim, as mulheres com as
quais a Maria havia feito a praça e os amigos do irmão do “Bonfa”. Por último,
cheguei para a Martha Rocha pedindo:
- Conterrânea! Xô tirar uma foto
sua com a Maria.
Para minha surpresa - ou por brincadeira dela, pra me agradar -, respondeu:
- Você vai tirar foto de uma
velha dessas do lado de uma máquina de Brasília?
Martha Rocha era pintora, tinha
vários quadros dela nas paredes de seu apartamento, no Rio de Janeiro. Como
devia ao “Bonfa” um quadro pintado por
ela, o colega, que me devia várias rodadas de cerveja derrubadas quando saíamos
da redação do jornal (nunca me pagava a parte dele) propôs que a eterna Miss Brasil pintasse uma
tela pela foto dela com a minha mulher para me agradar). Ficou combinado de que
eu lhe mandasse a foto, mandei-a e Martha pintou esta imagem que você vê acima.
Quanto a matéria sobre o atentado
ao Carlos Lacerda, só a fiz na véspera do Caderno de Cultura ser diagramado, com
o Lysias cobrando o tempo todo. O “Bonfa”
não me ajudou a escrever uma linha e, ainda, me cobrou pagar uma cervejinha depois
do fechamento da página, que você vê ai no meio do texto – beleza! Quem tem os
amigos sacanões que eu tenho, precisa de inimigo pra quê?.