domingo, 8 de junho de 2025

O DOMINGO É UMA MULHER BONITA: "MONA LENA", UM QUADRO DE LEONARDO DA VINCI

   A tela La Gioconda, de Leonado da Vinci, era apenas uma das muitas do artista, até ser roubada do parisiense museu do Louvre, pelo vidraceiro  italiano Vicenzo Peruggia, em 1911. Para os estudiosos, era inferior, tecnicamente, por exemplo, a Dama com Arminho, em que Leonardo retrata Cecília Galerani, amante de seu protetor Ludovico Sforza, Duque de Milão. No entanto, a notícia do roubo, atiçou a curiosidade dos franceses e o restante da história todos conhecem.

Tela pintada por volta de 1515

  La Gioconda já encorporou várias modelos sugeridas por pesquisadores, mas concluiu-se que o mais provável é que ela tenha sido Lisa Gherardini, esposa do comerciante florentino Francesco del Giocondo - daí, Gioconda. Mais: a Lisa passou à história como Mona Lisa, mas a Mona foi uma neta dela, como  prenome no diminuitivo de madona, que sigifica senhora

   Depois de La Gioconda ter viajado no tempo, por cinco séculos, em 2005, surgiu mais uma boa discussão: Leonardo não seria o autor da tela Maria Madalena, pintada por volta de 1515, mas o seu colaborador Giampietrino (Giovanni Pietro Rizzoli). A discussão surgiu porque o sujeito  pintava madonas e Madalenas, e à época da retomada do estilo greco-romano nas artes e na literatura (Renascimento), muitos pintores aderiram ao nu feminino, tendo Santa Madalena por uma das modelos de inspiração, pois desde 591 Depois de Cisto era vista como prostituta, por conta do Papa Gregório I assim torná- la durante um sermão de Páscoa – só em 1969, o Papa Paulo VI acabou com tal história.

https://decorem.com.br/leonardo-da-vinci


 Na pintura de Da Vinci, um dos seu seus poucos nús, Madalena aparece com os seios de fora, segurando um véu branco transparente, usando ao pescoço colar e olhando para cima

As semelhança com La Gioconda, estudadas por especialistas em Da Vnci, derrubam a tese de autoria por Giampietrino, invocando, sobretudo, a expressão facial, a atmosfera mística das (duas mulheres) e a técnica do sfumato, ausência de bordas nítidas, criando efeito de transição suave entre luz e sombra.

La Gioconda, medindo 77cm de altura, por 53cm de largura, está na França porque foi levada pra lá peio próprio Leonardo, que a vendeu para o rei Carlos I. Da sua parte, Maria Madalena, medindo 58cm x 45 cm, faz parte de coleção particular – bem que esta versão  poderia ser a  Mona Lena. Confere?

domingo, 1 de junho de 2025

A PÉTALA ROZA

                                                 Início às 11h47 de 08.06.2025 (sábado) 

1 – Empolgado pela grande demonstração de coragem do povo de Leningrado, ao enfrentar cerco nazista, por 900 dias – entre 8 de setembro de 1941 a 27 de janeiro de 1944 –, durante a II Guerra Mundial, o russo Boris Yachin decidiu enviar um repórter da sua revista para noticiar de perto as grandes vitórias militares do seu povo.

 Boris Yashin, chamado por Seu Russo, pelos cariocas, chegara ao Brasil, em 1922, ao saber que, do outro lado do Atlântico, encontraria melhores condições para crescer como gráfico. Por ter mais conhecimentos do setor do que os brasileiros, foi progredindo, juntou dinheiro e, após quatro temporadas por aqui, montou ó seu próprio negócio. Mais um tempinho depois, já bem estabelecido na praça,  fundou a revista Brasila, que caiu, rápido, no gosto dos leitores.

 Foi por ali que ele chamou o repórter Gustavo Tápia à sua sala e falou-he do seu desejo de cobrir as vitórias militares do seu povo guerreiro.


- Topo, Seu Russo – respondeu o rapaz, certo de que seria a sua grande oportunidade de crescer e chegar à semanária O Cruzeiro, a principal magazine do Brasil, desde 1928.  Empolgado, o homem discursou para seu repórter:

 - Os nazistas planejavam dominar Leningrado, por ser um grande centro industrial. Achavam que cercando-a poderiam interromper produções militares e matar a nossa população de fome. Mas o meu bravo povo encontrou uma saída, pelo Lago Ladoga, conseguindo suprir a nossa gente com alimentos necessários para seguir vivo, enfrentando, durante o transporte, 30 graus negativos de frio. Enfim, os nazistas não conseguiram capturar, também,  Moscou, Stalingrado e nem Kursk. Pelos inícios de 1944, a minha gente conseguiu fazer uma grande ofensiva, com o dobro dos invasores, e lutou, ferozmente, salvando, ainda, Novgorod, Pskov e Narva. Pelo final de março de 1944, grande parte das tropas nazistas e seus colaboradores já haviam sido expulsas. Meu amigo Gustavo, eu era garoto naquele tempo, mas, lhe juro, se tivesse mais idade, teria entrado na luta.

- Com certeza, chefe! O senhor é um grande guerreiro –  puxadinha de saco do repórter, vendo o entusiasmo do patrão.  

PARADINHA às 12h58 de 07.07.2025

RETOMADA às 17h17 de 07.06.2025

2 – Ao chegar a território soviético, Gustavo Tápia ficou conhecendo um correspondente de jornal moscovita que o informou estar indo para a região de Vitesb, onde os soviéticos haviam montado contraofensivas de sucesso, por conta da 184ª Divisão de Fuzileiros com pelotão de atiradores de elite. Sacou que, se Moscou enviava jornalista para aquele teatro de guerra, seria porque ali estaria, após o final do cerco de Stalingrado, o melhor material noticioso do país. E seguiu para lá, juntamente com o novo amigo e o fotógrafo daquele.

 Alguns dias depois de já estar circulando com os demais correspondentes de guerra por onde eles eram autorizados se mexeram, Tápía desgrudou-se um pouco do grupo de colegas e, de repentr, sentiu-se puxado por alguém, que imaginou ser um nazista. Era, no entanto, uma integrante do pelotão russo de atiradores de elite.

- Você é louco? Não conhece as regras de movimentação? – indagou-lhe uma linda moça loira, armada.

- Agadeço-lhe pela advertência. Acho que exagerei – respondeu.

- Vamos! Vou leva-lo à barraca dos jornalistas -  ele ofereceu-se e o deixou por lá.

Foto colorizada e reproduzida de site do Exército soviético

A moça que livrara o Tápía de um possível ataque nazista chamavae Roza Iegorovna, tinha 20 na idade e começara a combater, em abril de 1944, inconformada pela perda de um irmão durante o cerco de Stalingrado. Foi por conta dela que ele escreveu o seu primeiro texto como correspondente de guerra, quando ela foi levada aos jornalistas, pelo Major Vasily Degtyaryov, o comandante do Regimento de Fuzileiros, para narrar o que fora visto pelos soviético por algo muito positivo.

- Matei, hoje, alguém, pela primeira vez. Após isso, as minha pernas tremeram e eu  deslizei para dentro da trincheira – e narrou mais fatos da sua participação nas lutas daquele dia. Após terminar a sua palestra e os correspondentes de guerra serem autorizados a fazerem perguntas, Gustavo Tápia, vendo-a bastante chocada pelo seu (primeiro) tiro fatal, falou pra ela:

 - A senhoria não deveria se preocupar com o que fez. Quem está na guerra, combatendo na linha de frente, tem que tentar sobreviver, ou será abatido pelo inimigo. A senhorita matou um fascista, e foi pouco. O mundo ficaria muito melhor se a cada dia centenas, milhares  deles fossem destruídos. São as piores pessoas desse planeta.

Foto colorizada e reproduzida de site do Exército soviético

 Aida naquele abril, Roza Liegorovna voltou a ser levada aos correspondentes de guerra, daquela vez para ser louvada por suas ações durante batalha pela pelo domínio da vila de Kozyi Gory, que valeu-lhe a Ordem da Glória, primeira condecoração militar de uma mulher soviética, por ter totalizado 13 tiros fatais, que chegaram a 17 no mês seguinte, quando ele foi considerada guerreira precisa e corajosa pelo jornal soviético Unichtozhim Vraga e a revista carioca Brasila, para a qual, tempinho depois,  ela fizera imporantr declaração:

- Com sete meses na guerra, combatendo na linha de frente, agora, alvejo o inimigo a sangue frio e vejo  isso o significado de minha vida. 

3 – Cheia de glórias e de elogios, em junho daquele 1944, de repente, Roza Liegorovna recebeu a ordem de parar de atirar. O comando do Exército soviético decidira poupar os seus atiradoras. Roza, porém, queria continuar lutando, apoiando o avanço  da infantaria soviética. Mas o seu pedido lhe foi negado pelo comandante do 5º Exército, o marechal Nikolai Krylov. Então, escreveu duas vezes aoo líder soviético Josef Stalin pedindo para escreveu duas cartas com o pedido de ser incorporada a um batalhão, ou a uma companhia de reconhecimento.

Enquanto esperava pela resposta, esperando, também, ser transferida para um outro local, Roza Liegorovna começou a passar tempo à noite, conversando com Gustavo Tápia, de quem se tornara muito amiga. Colegas correspondentes de guerra e as maiores amigas dela, Aleksandra "Sasha" Yekimova e Kaleriya "Kalya" Petrova, diziam que o casal “namorava”, mas nenhum dos dois confirmava e nem desmentia.

https://rosalux.org.br

Roza tinha este nome em homenagem à filósofa e revolucionária polonesa Róża Luksemburg, que os jornalistas brasileiros escreviam Rosa de Luxemburgo. Nascida no 3 de abril de 1924, no vilarejo russo de Edma, perto de Nowo-Bobruisk, mais conhecido, seu pai era um madeireiro e tornou-se inválido lutando durante a I Guerra Mundial, enquanto a sua  mãe trabalhava como leiteira em uma fazenda. O casal teve cinco filhos homens e duas mulheres. Mesmo com tanta gente para criar, ainda adotou três órfãos.

 Roza cresceu com altura maior do que a média das moças de suai dade, com cabelos castanhos claros e olhos azuis. As quatro primeiras etapas de seus estudos foram em sua própria vila. Depois, para continua-los, caminhava por 13 quilômetros para tê-los em Bereznik, o local mais próximo de sua casa em que poderia encontrar escolas do ensino médio. Depois, para causar uma faculdade, viajou por 200 quilômetros a pé até chegar a Arcangel, levando pouco dinheiro. Conseguiu vaga na moradia da faculdade, emprego em um jardin de infância e completou os estudos em 1942.    

 No período em que demorava a receber resposta aos seus pedidos para voltar à linha de gente, Roza decidiu fazê- lo por conta própria, confiando que os seus 59 tiros certeiros sobre nazistas, registrados pelo seu comandante Vasily Degtyaryov lhe ajudassem a comover os seus chefes. Mas não. Foi punida, embora escapasse de uma corte marcial.

Roza acrescentou às suas glórias ajudando o seu país durante a Batalha de Vilnius, quando as nazistas foram expulsos da região que dominavam desde 1941. Durante os momentos em que a guerra lhe permitia, ficava com as amigas Sasha e Kalya e encontrava-se com o Tápia, que tocava violão para ela cantar a sua música predileta - Oy tumany moi, rastumany - , que a entoava sempre que limpava a sua arma. Num desses encontros, as amigas flagrou os dois em um longo beijo.    

PARADINHA às 20h31 de 07.06.2025

RETOMADA às 18h55 de 09.06.2025 (segunda-feira).

 Da última vez em que  os dois se encontraram, pelo final da segunda quinzena de dezembro de 1944, ela contou:

Foto colorizada e reproduzida de site do Exército soviético
- Levei um tiro em meu ombro direito, mas não senti dor, no momento. Apenas o local  parecendo ter sido escaldado por algo bem quente. Depois, vi que haviam ficado dois furos e intuí que precisava de atendimento médico, que tirou o meu dedo do gatilho por uma semana. Aquilo teria de acontecer. Na véspera, sonhara que  havia sido ferida mesmo lugar. Estava escrito – e mostrou o estrago para o seu namorado, dizendo-o, também, que gostaria de estudar literatura, depois da guerra, mas, se não fosse possível, iria cuidar de órfãos, como os seus pais

- Já eu, sem poder lhe ver, vou estar em meu país, lembrando da sua coragem.

- Eu, também, vou me lembrar muito de você. E de algo que nunca vou me esquecer: de quando eu rastejava por uma trincheira lamacenta, diariamente, ao amanhecer, até  chegar a um fosso camuflado e, irrevogavelmente, caçar os nazistas.

4 -  Na primeira semana de janeiro de 1945, finalmente, a Roza recebeu autorização para voltar a lutar na linha de frente.O documento fora assinado pelo comandante Nikolay Kriolov  que, três meses depois, fora considerado herói de guerra e promovido a coronel-general. Ele a enviou para a região prussiana de Eydtkuhnen e ela, confirmando a sua boa pontaria, mandou tiros certeiros sobre 26 nazistas, servindo na Divisão de Rifles do Batalhão de Fuzileiros Motorizados.

 Por ali, Ilya Ehrenburg, correspondente do jornal Krasnaya Zveda, do Ministério da Defesa da União Soviética e que ficara muito amigo do Tápia, citou a Roza em vários dos seus despachos, chegando a informar que “muitos atiradores veteranos eram inferiores a ela em precisão de tiro”. Correspondentes de jornais e revistas  de países ocientais, também, a destacaram bastante. No Canadá, ela foi chamada por "O Terror Invisível da Prússia Oriental". E declarou ao correspondente do diário canadense: 

 -  O que eu fiz não foi mais do que deveria, defendendo  a minha pátria. A minha felicidade é lutar pela felicidade dos outros. Se for preciso pagar pela felicidade comum, estou preparada para isso – e pagou, quatro meses depois, durante um combate, perto do final da II Guerra Mundial.

Foto colorizada e reproduzida de site do Exército soviético

5 – Durante o tempo em que passou sendo correspondente de guerra da revista Brasila, o repórter Gustavo Tápia tornou-se amicíssimo dos colegas soviéticos Ilya Ehrenburg e Pyotr Molchanov. Por seus esforços, o primeiro, que tornou-se escritor respeitado, em toda a Rússia, teve um dos seus  livros -  A epopéia russa: diário de um jornalista junto ao Exército Vermelho -, publicado no Brasil, em 1946. Com o outro, aproveitando viagem que faria à Europa, já como repórter da revista O Cruzeiro, combinou de se encontrarem em Paris,  passados quase duas dezenas de tempo após o final da guerra – e se encontraram.   

 Eles conversavam – em inglês –, animadamente, em um dos cafés parisiense, quando o Molchanov começou a abrir uma valise, falado:

- Tenho uma grande surpresa para você – e puxou três cadernos, dizendo serem os diários escritos por Roza Liegorovna.

 - Mas escrever diário não era proibido pelo Exército soviético?  - lembrou-se o Tápia.

- Sim, era. Mas, mesmo assim, ela escreveu, entre inícios de outubro de 1944 e janeiro de 1945. E não lhe contou isso? Também, que era fã do poeta  e escritor romântico Mikhail Lermontov? E nem que gostavas de jogar voleibol? - indagou

- Não. O que me lembro bem é que ela se dizia uma falante  ilimitada e imprudente e que valorizava a coragem e a ausência de egoísmo nas pessoas. Aliás. creio que, à época da feitura desses diários, já não nos víamos mais! Me parece que ela já havia sido transferida, pelo general Kriolov, para Eydtkuhne – calculou o Tápia.

- Deixei marcado uma folha onde ela faz menção a você. Leia:

- Não posso posso aceitar não ver mais o Gustavo Tápia. Que cara legal!. Ele me amava, eu sei, e eu, também, o amava. Meu coração está pesado, tenho vinte anos, mas não tenho amigo íntimo como ele. Não posso.. Meu coração está pesado, tenho vinte anos, e não amarei outro rapaz”.'

- Como você conseguiu estes diários? – quis saber, o Tápia.

- Vi e comprei em uma loja de antiguidades, em Kiev. Depois que o li, pensei em doá-los ao Museu Regional do Oblast de Arcangel, onde ela estudou.

- Então, como já li o que você queria me mostrar, agora, já pode fazer a doação – sugeriu.

Paradinha às 21h14 de 09.06.2025

Retomada às 08h55 de 10.06.2025 (terça-feira)

6 – Gustavo Tápia aposentou-se aos 74 de idade, por querer aproveitar dos netos crescendo, brincar com a molecada. Poderia ter ido além no jornalismo, pois ainda estava bem fisicamente. Só andava meio-esquecido de alguns fatos e de pessoas que haviam passado pela sua vida.

 Por aquele tempo, ele fazia caminhadas diárias pelo calçadão da avenida em que morava. Quando mudavam os cartazes de um cinema que havia em seu caminho, bem pertinho de sua casa, invariavelmente, ele parava para ver e ler. Em uma dessas vezes, ele achou interessante o que estava anunciado por fotos e título do filme – A Pétala Roza -  e, em vez de continuar na caminhada, comprou ingresso e entrou no cine. Depois de uma hora e meia de película exibida, saiu falando para os seus botões:

- Acho que já vi este filme, antes!


                                                       FINAL às 10h05 de 10.06;2025 (terça-feira)