BREVE, NOS CINEMAS. AGUARDE!
007 CONTRA PHANG NGA
Pré-estréia: 5 de setembro de 2020
007 CONTRA PHANG NGA
TREVOR FRANCIS
E
MAYRA ROCHA
ROTEIRO: GUSTAVO MARIANI
Pré-estréia: 5 de setembro de 2020, no CINE ROMA, em Barreiras-Bahia-Oeste
Cinerama - CinemaScope-Colorido
LIBRETO
1
O Chefe do Departamento chamou a sua secretária e a ordenou:
- Verifique, com o nosso Chefe de Pessoal, se temos alistado, no War Book, algum espião que fale francês, russo e alemão.
- Imediatamente, Chefe. Em uns 20 minutos, informo-lhe – prometeu a moça.
Exatamente, no tempo prometido, ela retornou ao gabinete do homem, informando-o:
- Temos um espião que participou do planejamento e da supervisão da Operação Goldeneye, em defesa de Gibraltar. É inglês, nascido, em 1908, em Canterbury, e chama-se Ian Lancaster Fleming.
- Muito bem! Convoque-o a comparecer ao Departamento, imediatamente – foi peremptório.
Muito rápido, também, chegou o espião, que ouviu dele:
- Precisamos dos seus serviços na Jamaica. Arrume as malas e viaje, logo, a fim de servir ao Almirantado de Sua Majestade, como agente de inteligência – explicou, o Chefe.
Ao chegar à Jamaica, para participar de operações secretas, Fleming hospedou-se no Myrtle Bank Hotel. Lembrava-se de ter passado os últimos tempos da Segunda Mundial naquela terra, e gostara tanto dos trópicos que pensara em comprar um terreno para construir uma casa no pedaço. Inclusive, até começou a desenhá-la, Guerra terminada – e Guerra Fria iniciada, entre Estados Unido e Unidos Soviética, pelo controle ideológico do planeta-, ele voltou à Jamaica, em 1946, e comprou uma velha e abandonada pista de corrida de burros, perto do porto de Oracabessa. Construiu o refúgio tropical e deu-lhe o nome de Goldeneye, por causa de seu envolvimento com a operação homônima e por estar lendo livro Reflexo de um Olho Dourado, escrito pela norte-americana Carson McCullers - nome fictício de Lua Carson Smith, que vivera entre 1917 a 1967.
Antes de se definir pelo nome de sua residência, Fleming tinha um plano B na manga do casaco: chamar a construção por Shamelady, homenageando uma planta tipo as maria-fecha-a-porta
Cassino Royale foi a estreia de James Bond na literatura, lançado em 13 de abril de 1953, quando Fleming informou ao mundo que trabalhava para o MI-5, agência britânica de contra-espionagem e segurança de Sua Majestade, a rainha da Inglaterra. Esteve presente em 12 livros e em mais duas coleções de contos publicados entre 1953 e 1966, os dois últimos quando o criador não estava mais vivo. Consumido por mais de 100 milhões de leitores, o Bond não foi, no entanto, a única cria do Fleming, que escreveu, ainda, o infanto-juvenil Chitty-Chitty-Bang-Bang e dois livros de não–ficção.
2
Mayra viajava da peruana Lima para a alemã Berlim. Ao desembarcar na cidade europeia, passou logo tempo de olho na esteira das bagagens, mas nada de as suas malas aparecerem. Reclamou com a companhia pela qual viajara, sem sucesso. Haviam se extraviado. À época, aproximava-se do fechamento de mais um calendário, fazia muito frio por toda a Europa e ela teve de gastar uma boa grana comprando roupas para trabalhar, sobretudo agasalhos. E não recebeu nenhum comunicado da empresa área que sumira com os seus pertences, mesmo tendo deixado o telefone do endereço onde ficaria.
Mayra esperou por quase duas semanas sem receber notícias de suas malas. De volta a Brasília, ela pediu ao seu namorado, um advogado, para processar a companhia. Ganhou a causa, arbitrada pelo juiz em mais de seis mil dólares e, algum tempo depois, contou ao rapaz que tinha o grande sonho de viajar pela Ásia. Imaginou usar a grana da indenização para fazerem passeio, caso ele topasse – topou e viajaram. De de Brasília para São Paulo e desta cidade rumo a Doha, no Katar, no 15 de janeiro de 2023. Por ali, rodaram, também, pelas Ilhas Maldivas, Tailândia, Vietnam e Camboja, e voltaram ao Katar, de onde regressaram ao Brasil.
Paisagem surrelista em Doha
Na Tailândia, quando eles estavam em Puket, Mayra preencheu a ficha de hospedagem e o balconista do Deevana Patong Resort, ao ler o nome dela, não conseguia pronunciar Mayra. Por mais que tentasse, só falava Meyara. Então, o seu namorado sugeriu que ele a chamasse por Jupy, como ele a apelidara. Por sinal, com ele ocorria o mesmo, o balconista não falava Trevor, o nome ele, só Trévar. Diante do impasse linguístico, pediram que deixasse tudo daquele jeito.
Puket fica na ilha do mesmo nome e é a capital da província xará, com área de 12,56 km quadrados. Pouco depois da chegada ao hotel, eles deixaram as bagagens em um apartamento e foram indagar ao mesmo balconista por onde deveriam começar os passeios. Receberam folders de empresas turísticas e a sugestão de começarem por Thalang Roada, a cidade velha, onde havia muitas shophouses coloridas, todas do século 19, e edifícios chineses e portugueses. Também, não deixassem de conhecer a mansão Baan Chinpracha, construída em 1903, com tijoleira italiana, janelas persianadas e mobiliário bem antigo. E o museu Thai Hua Museum, que contava a história e a cultura da terra.
Beleza! Fizeram o recomendado e voltaram ao hotel, pelos inícios da noite. Pegaram uma chuveirada, trocaram de roupa e, pouco depois, sairam pra conhecer a night de Puket. Em um dos points, as tailandesas, por sinal, muito bonitas, deram em cima do Trévar, dizendo, descaradamente, para a Jupy:
- Você é uma mulher de sorte. O seu namorado é muito bonito, lembra o Roger Moore, que esteve por aqui filmando uma aventura do James Bond.
Roger Moore, à direita, contracenou com Christopher Lee filmando na Tailândia
Jupy, brasiliense, vivera algum tempo no Rio de Janeiro e, frequentemente, visitava os cariocas. Como aprendera todas as manhas daquela moçada, tirou tudo numa boa com as assanhadas tailandesas, além de fazer a praça com a moçada. Perto de uma da madrugada, voltaram ao hotel pra dormir. No dia seguinte, durante o café matinal, sentaram-se à uma mesa próxima de onde estavam quatro sujeitos mal-encarados. Jupy os ignorou, mas Trévar, sem nunca se desligar da vida dos advogados, não teve como deixar de se ligar no que os caras conversavam: parecia ser um grande golpe contra uma companhia que iria fazer filmagens na ilha, para uma série muito famosa do cinema. Ele gravou bem a cara do cara que parecia ser o líder dos grupo. Aparentava uns 35 de idade, tinha olhos castanhos, cabelos avermelhados, cortados à la cadetes brasileiros e usava bigode fino. As mãos eram muito grandes. Quando ele e Jupy deixaram a mesa, o tal sujeito falou para os três acompanhantes:
- Aquela figura sentada à nossa frente, aquele rapaz, se ligava no nosso papo. Temos que dar um jeito nele – e olhou para a sua direita e incumbiu o colega do lado para tratar do caso.
- Pode deixar comigo. Darei um jeito nele – prometeu um dos sujeitos da turma.
Trévar e Jupy estavam na portaria quando viram, de longe, o cara de cabelos vermelhos. Calcularam que ele teria 1m90cm de altura, no mínimo. Como pretendiam visitar a grande estátua de Buda, com 45 metros de altura, no alto de uma montanha de onde poderiam ter visão de 360 graus da ilha, levaram roupas apropriadas para o local – nada de pernas e ombros de fora - sagrado para os budistas, de maioria na Tailândia. No horário em que fizeram a visita, muito cedo, não havia mais ninguém no local, nenhum turistas. Eles posavam para fotografias diante da Phuket Big Buddha, quando foram cercados por grande quantidade de macacos, cada um do tamanho de uma criança de uns 10, 11 de idade. Jupy ficou apavorada, mas os bichos não os atacaram. Ficaram parados, olhando-os. Trévar fez pra ela um sinal, tipo deixa comigo e começou a rezar algo que o seu pai lhe dissera ter aprendido com um feiticeiro baiano, o infalível Cabelo Faiado. E falou, em voz alta:
- Sou protegido por São Grão e por San Jana, que não me deixa cair em disgrama. Ula, ula, Santa Vana, lana sabatana!
Imediatamente, os macacos se mandaram. Pouco depois, os dois deixaram a estátua do Buda e foram alugar uma moto. Quando rodavam por Puket, notaram que um dos homens que viram há instantes no hotel os perseguia, montado em uma outra moto. Trévar acelerou, e o homem também. Quando o tal colava nele, faltando milímetros para derrubá-los, Jupy esticou a perna esquerda e acertou o cara, que espatifou-se pelo asfalto. Depois, eles pararam e Trévar falou pra Jupy:
- Vamos trocar de hotel, imediatamente. Aquele cara de cabelo vermelho é um dos maiores bandidos do planeta. Sabe quem é ele? O Scarabala. Assassino, mercenário, amigo de vários ditadores e da KGB. Lhe é atribuído dezenas de armações de atentdos e assassinatos em locais como a Guiana Inglesa, Trinidad, Jamaica, Cuba, Martinica, Haiti e Panamá. Ele está atrás de nós, porque ouvi a conversa dele durante o café da manhã.
- Você é um imcompetente! Como deixou os dois escaparem? Não disse que resolverei a parada?
- Foi inexplicável, chefe. De repente, os macacos pareciam enfeitiçados - respondia alguém.
- Vou fazer de contas que não estou ouvindo nada e lhe darei só mais uma chance pra agarrar o nosso homem. Se voltar a falhar, eu mesmo farei um servicinho com você, entendido? – ameaçava uma voz, que eles acreditaram ser a do cara dos cabelos avermelhados, o chefe dos bandidos. E se mandaram, depressa.
3
– Jupy! Já que você falou em James Bond, que tal irmos à ilha onde foram gravadas cenas de um filme do 007?
- Beleza! Topo! Assim, você tira várias fotos por lá e manda pra seu pai. Ele vai adorar - achava.
- Adorar é pouco. Vai mijar nas calças. Por sinal, o coroa tem uma história interessante com o ator do filme do 007 que gravou cenas aqui, em Puket.
- Que história foi esta que o seu pai arrumou? - ela queria saber.
- Certa vez, o ator Roger Moore, que era o embaixador das Nações Unidas para projetos ligados à criança, foi ao Brasil fazer campanha para o que não me lembro mais. Ele e o Renato Aragão, o representante da causa entre os brazucas, estiveram no Congresso Nacional. Depois da sessão em que e pediram apoio aos parlamentares para o que apresentaram, foram à sala de imprensa da Câmara dos Deputados e ficaram parados diante de uma porta, batendo papo com a rapaziada. Enquanto conversaram, o meu pai, que era repórter do Jornal de Brasília, foi chegando, do que se aproveitou o fotógrafo Luis Antônio Alves, de O Globo, pra sacanear: "Chegou o 00M" - M, de Mariani, como ele era chamado. Então, o escrotinho do coroa virou-se para o Renato Aragão, grande torcedor do Vasco da Gama, e brincou: "Renato, o que é que você está fazendo aí que ainda não vestiu o 007 com a camisa do Vascão"?’ Os jornalistas que torciam para outros times vaiaram, mas o Renato vascainou legal e o chamou pra ficara entre ele e o Moore. Explicou ao ator inglês sobre o que o meu pai cobrara e, carinha informado, disse que aceitaria uma camisa do Vasco da Gama e entregou o seu cartão de visitas para o escrotinho do meu pai enviar-lhe. Ele enviou, o cara recebeu e mandou um cartão postal, de Londres, agradecendo pelo presente.
- O seu pai ainda tem este cartão? ´queria saber, a Jupy.
-Você já viu o meu pai guardar alguma coisa? Este foi levado por um amigo dele, o Da Mata, o dono do Cine Roma, em Barreiras, na Bahia-Oeste.
Enquanto eles conversavam, a Jupy desviou o assunto pra cobrar:
- Ficamos combinados, antes de sairmos de Brasília, de fazer mergulhos submarinos, tá lembrado? De há muito que não mergulhamos nos mares do Rio de Janeiro. Vamos, então, primeiramente, mergulhar, tá!
- Tudo bem! Pode ser! Vamos para o fundo do mar, visitar as tartarugas
Por aquele instante, o Trévar bateu uma das mãos no bolso direito de sua bermuda e sentiu a falta da sua carteira. Chamou a Jupy pra voltarem ao hotel e procurá-la. Encontraram-na e, à saída, indagaram ao balconista sobre pontos de mergulhos. Novamente, ele entregou-lhes folders. Escolheram um dos picos anunciados, pediram-no para devolver a motocicleta que haviam alugado e chamar um taxi que os levasse a um porto de onde pudessem partir para o fundo do mar.
A conversa deles com o balconista fora ouvida pelo mesmo brutamonte que tentara derrubá-los durante uma perseguição com motos. E, imediatamente, o homem reportou-se ao chefe:
- Eles vão mergulhar. Agora, não tem escapatória. Deixe comigo!
- Espero, que desta vez, você não falhe - avisou o interlocutor.
- Não falharei. Vou subornar donos de embarcações pra levá-los a um ponto onde há tubarões - planejou.
- Ótimo! Espero que dê certo - voltou a torcer.
Trévar e Jupy chegaram a um porto, mas, ao abordarem um barqueiro, este disse-lhes que só distante cerca de uma hora dali eles poderiam pegar um ferryboat pra irem a pontos de mergulho.
- Você não topa nos alugar a sua lancha e nos levar onde poderemos encontrar barcos com turistas e mergulhadores? – propôs, o Trévar.
- Claro! Estou aqui pra ganhar dinheiro. Conheço todos os pontos em que os barcos param pra rapaziada mergulhar. Isso demora um pouco, pois, pela nossa lei, os turistas-mergulhadores são obrigados a escutar um papo dos instrutores sobre convenções de mergulhos. Também, é obrigatório um instrutor acompanhando vocês. Como ainda é bem cedo, com certeza, pegaremos barcos que ainda não descarregaram a moçada no fundo do mar.
- Vamos, então, nessa – determinou a Jupy, que tinha os mergulhos por esporte predileto e os praticava sempre que ia ao Rio de Janeiro, na maioria das vezes nas ilhas da Âncora e de Gravatá, onde há grande fauna marinha, com peixes ornamentais, arraias e grandes rochedos.
- Mergulho desde os meus 14 de idade. Aprendi com vizinhos que mergulhavam em todos os finais de semana. Não fiz nenhum curso, aprendi com eles - revelou.
Trévar começara a mergulhar durante as tais brincadeiras da Jupy, nos mares cariocas. Depois que ele ficou craque no assunto, mergulhavam entre 6 e 22 metros na parte voltada para o interior das ilhas. Mas enquanto os vizinhos da Jupy iam até 60 metros de profundidade, eles dois não se arriscavam tanto, só desciam, no máximo, até 35 metros.
Conforme o alugador do barco previu, eles chegarem a tempo de verem vários iates iniciando passeios. O cara só achou estranho haver um barco sem ninguém dentro.
- Melhor pra gente! Assim, não perderemos tempo ouvindo palestras de instrutores de mergulho. Estou seca pra mergulhar – disse a Jupy.
O barqueiro que os conduzia negociou embarque com o cara do barco vazio, mas eles não escaparam de ouvir um papinho. Receberam os equipamentos de mergulho e, sem demora, se lançaram ao mar, guiados por um sujeito meio-careca.
No fundo mar, Trévar e Jupy admiraram cardumes dos mais variados tipos de peixes, moreias, tartarugas, tudo que havia na rota definida pelo instrutor. De repente, viram um tubarão vindo na direção deles. Não era daqueles do tamanho de um prédio, algo assim como um filhote, mas que não lhes daria nenhuma chance de sobrevivência, caso lhes atacasse.
Jupy ficou apavorada com a aproximação do bicho e fez para o Trévar um sinal tipo estamos fritos. Trévar respondeu com um sinal que poderia ser entendido como deixe comigo. E, mentalmente, mandou ver: "Sou protegido por São Grão e San Jana, que não me deixa cair em disgrama. Ula, ulam Santa Vana, lana sabatana”.
Escapados do tubarão, eles emergiram rumo do barco e foram resgatados. Depois do susto, o Trévar falou pra Jupy:
- Coisa do Scarabala. Ele não vai desistir de nos pegar.
- E, cara! Pare com esta idéia! O aparecimento do tubarão deve ter sido algum repentino momento de desequilíbrio ecológico. Além, do mais, parece que ouvi papos, ou li, que os tubarões daqui são vegetarianos - disse
- Tubarões vegetarianos? Ficou lelé, Jupy? Onde você leu isso? De certo, no jornal em que o escrotinho do meu pai escreve. Não dá pra levar a sério vocês dois, né? - sacaneou, o namorado.
- Pois eu levo - afirmou.
- Primeiramente, macacos; agora, tubarão. Tô lhe dizendo: o Scarabala quer nos pegar - analisou, o Trévar.
Surpreendentemente, o tubarão desviou-se deles, afundou-se mais no fundo do mar e desapareceu.
- Qual é,. cará! Admiro ver você, karateka fera da Academia Uruma Kan, com medo de um mané de cabelo vermelho! Vou contar isso pro Professor Jakson Pereira, pra você levar um esporro dele, tá? - ameaçou, a Jupy.
- Pois conte! - Trévar respondeu, desafiante.
- Além do mais, aqueles golpes de karatê que você me ensinou não servem pra nada? Brinco, sempre, executando-os, quando treino com algumas amigas – ela revelou
- Muito bem! Então, já que você acha que o Scarabala é só personagem de livro do Ian Fleming, então segure a barra. Ele é real e, se não nos pegar nessas suas tentativas de atentado, vai tentar nos acertar com balas de ouro - projetou, o Trévar.
- Alguém ussa bala de ouro? Você pirou de vez - criticou, a Jupy.
- Pirei não! Balas de ouro, sim. Pois prepara a sua testa, que ela pode ser acertada por balas de 24 quilates, com o máximo de efeito destrutivo. Se ele apontar-lhe o seu Colt 45, chapeado a ouro, você nem terá tempo de encomendar a sua alma ao diabo, ou ao santo de sua devoção, se é que tem algum - sacaneou, o Trévar.
- Mesmo com este seu papo de literatura, prefiro encarar. Não vou desistir de um passeio sonhado a tanto tempo - garantiu, a moça.
Papo vai, papo vem, eles decidiram liberar o barqueiro com quem estavam e voltar pra Puket. Em terra, pegaram um taxi e foram conhecer uma cozinheira de rua, considerada a dona do tempero mais saboroso do planeta.
- Uau! Eu não como isso – resmungo, a Jupy, diante de espetinhos com carne de macaco, gato, escorpião e de cachorro.
- Pois eu vou devorar um escorpião. Aliás, escorpião é um dos apelidos do meu pai, nascido no 11 do 11, sob o signo da fera - zoodiacou.
- Pois, vá! Só espero que não vomite veneno pra cima de mim - esconjurou, a Jupy.
- Sem problema! Se você não quer me ver comendo escorpião, vou comer espetinho com barata, ou rato - brincou, o Trévar.
- Uau! Que nojeira! - exclamou, a Jupy.
Os dois estavam naquela discussão, quando um motociclista pintou na direção deles, a toda velocidade. Novamente, era o vacilão chefiados pelo cara de cabelos vermelhos, o que o Trévar dizia ser o Scarabala. Pressentindo que seriam, inapelavelmente, atingidos pela moto do cara, a trepidante Jupy pulou sobre ele, acertando-lhe, espetacularmente, uma pegada conhecida no karatê por tackle. Pegada em cheio, no meio do peito, fazendo-o espatifar-se pelo asfalto. Por conta daquele barraco, a enorme fila de pessoas que esperava a sua vez de comer as iguarias da mulher famosa espalhou-se, medrosamente, com muitos indagando:
- Quem é ela?
- Deve ser a Cherry Pensy, a Lily Vaiolet, a Love Lane ou a Sav´La Mar, aquelas lindas jamaicanas que vieram pra cá fazer exibições de karatê e terminaram ficando por aqui – falou um dos caras da fila.
- Já eu acho que deva ser a Honeychilde Wilder – arriscou, um outro sujeito.
- Nenhuma chance! A Honeychilde casou-se com um médico, nos Estados Unidos, tem dois filho e está longe do tempo em que tinha corpo como esta moça que derrubou o motociclista. Muito menos, a velocidade desta incrível desconhecida – ponderou mais um curioso.
Enquanto o pessoal fazia conjecturas sobre quem ela seria, Jupy correu para a motocicleta, que achava-se enganchado no meio do veículo, deu-lhe mais um chute, agora na cara, e chamou o Trévar para se mandarem. Antes de sumirem, o Trévar enfiou um espeto com barata frita na boca do sujeito e saiu sorrindo. Em seguida, ele e a Jupy tomaram o rumo de onde pudessem chegar ao arquipélago de Ko Phi Phi. E deixaram as coisas se esfriarem.
4
O rolo arrumado por Trévar e Jupy com o motociclista ficou só nos comentários de rua. O que mexia mesmo com a moçada de Puket era o sumiço da chefe do grupo cinematográfico que visitava a ilha pra estudar regravações para o próximo filme do Doble-Seven. A moça, chamada Barbara Broccoli, era filha do produtor Albert Brocolli que, na década-1960, se juntara ao amigo Harry Saltzman e compraram os direitos de filmagem dos livros de Ian Fleming. Ela viajava junto com o seu meio-irmão Michel Wilson e conhecia bem Puket, pois crescera dentro dos set de produção dos filmes de James Bond.
Wilson pressionava a polícia de Puket para localizar a irmã Barbara. Sem ter resposta, apelou para o governo da Tailândia e o caso ganhou o noticiário internacional. O tempo passava, mas a Barbara não aparecia, nem mesmo com a embaixada dos Estados Unidos engrossando pressões junto ao governo tilandês.
O rolo ralando era ouvido por Trévar e Jupy durante noticiário da TV colocada no salão do café matinal do hotel. Naquela manhã, eles se aprontaram para visitar a Ilha de James Bond. Chamaram um taxi e foram até o mesmo porto onde contrataram o mesmo barqueiro que os havia servido durante o passeio em que quase foram devorados por um tubarão. Ficou combinado que o barqueiro os esperaria e os deixaria no porto do ferry-boat de Puket.
Trévar e Jupy fizeram de tudo o que todos os turistas do mundo inteiro faziam na Ilha de James Bond. Posaram para fotos, clicaram as pedronas e exploraram o mar da baía de Phang Nga Bay. Lá pelas tantas, decidiram visitar uma caverna. À entrada, Jupy fez um sinal para Trévar, avisando:
- Vi uma espécia de raio dourado brilhando e se movendo de um lado para o outro.
- Não lhe falei! É o Scarabala na nossa cola. Ele não vai desistir - avaliou, o Trévar.
- Ah, cara! De novo, este papo? Dê um tempo! – ela sugeriu.
- Tudo bem! Então, vá entrando, olhando pra tudo, com muita atenção. Ele deve estar escondido por aí – previu, o Trévar - e o cara estava mesmo.
Trévar e Jupy encontram o pistoleiro com um revolver dourado apontado para a Barbara. O sujeito jogou um par de algemas para eles se prenderem, caso não quisessem vê-lo dourando a cabeça da moça com uma das balas que ele mesmo confeccionara. A dupla, porém, não não o atendeu. Ao contrário, corajosamente, foi-se acercando dele, que ameaçava atirar nas Barbara. Numa desviada de olhos dele para a mulher, Trévar aplicou-lhe um tremendo golpe de karatê e um chute no saco. Scarabala tremeu e caiu ao chão da caverna. Rápida, a Jupy pegou o revólver dourado dele e o sacaneou:
- Aqui, babaca! Este vou levar pra coleção do museu do Cine Roma.
- De jeito nenhum. Temos que entrega-lo às autoridades – ralhou, o Trévar que, pouco depois, libertou a Barbara Brocolli.
Ele e a Jupy algemavam o Scarabala, quando o barqueiro gritou à entrada da caverna.
- Apressem-se, se não quiserem dormir por aqui. Faltam 20 minutos para o ferry-boat sair, não sei se chegaremos a tempo.
- Venha nos ajudar carregar um embrulho – gritou, o Trévar - e levaram o bandido para o barco.
- Chegaremos a tempo? – indagou a Jupy.
- Tenho contatos com alguns chegados no ferry. Vou ver se ele seguram a onda, por mais alguns minutos, por lá - seguraram.
Os caras do ferry avisaram à polícia sobre o sequestro, pelo Scarabala, da Barbara Brocolli, e da prisão dele, por um turista lutador de karatê. Assim que o ferry aportou em Puket, um monte de repórteres, fotógrafos e cinegrafistas invadiram o veículo, até atrapalhando o trabalho da polícia. O que importava, porém, era o fim de um mistério.
Na manhã seguinte, quando saíam para o aeroporto, a fim de deixarem Puket, a terrível dupla Trévar & Jupy foi abordada por Barbara e Michel, que chegavam no mesmo tempo do que taxi que os esperava.
- Esperem, guys! Precisamos falar com vocês - gritou, a Barbara.
- Não vai dar, pois perderemos o vôo para Bangkok – respondeu, o Trévar.
- Não se preocupem com isso. Mandaremos o nosso avião leva-los – prometeu, a Barbara.
- Do que se trata? – indagou, o Trévar.
- Vamos entrar, nos sentar e conversar – propôs, o Michel – e entraram e sentaram-se e conversaram.
- Fiquei impressionado com a bravura com que você enfrentou o Scarabala Em nenhum filme vi um James Bond lutar tão bem. Foi emocionante, principalmente para quem era sua prisioneira – comentou, a Barbara, acrescentando: decidimos convidá-lo pra ser o 007 no nosso próximo filme que, por sinal, terá cenas gravadas aqui, remakes de O Homem do Revólver de Ouro.
- De todo o coração, agradeço-lhe, mas eu sou um advogado, não um ator – respondeu, o Trévar.
- Sem problemas. Então, contratemos a sua namorada para o filme. Ela tem rosto parecido com o de Maud Adams, a única atriz que fez duas Bond Girl e que já está com 78 de idade.
- Euuuu! Me inclua fora dessa! Por favor – gritou a Jupy.
Bem que eles tentaram, mas não foram convencidos pelos meio-irmãos a regravarem cenas de O Homem do Revólver de Ouro, levando uma boa graninha na mão.
Ainda durante o papo, a Barbara e o Michel disseram ao Trévar:
- Estamos pensando em mudar o nome do Doble-Seven para 00M, aproveitando o M do Mariani do seu sobrenome. Já tivemos, se não erro as contas, 25 aventuras do 007. Hora de mudar. O novo filme será 00M contra Nga Bay. Que tal? – indagou a Barbara.
-Legal! - respondeu a Jupy, apresentando uma sugestão: Já que vocês querem inovar tudo, porque não convidam o pai do Trévar, que é jornalistas, para escrever o novo roteiro?
- Você ficou louca, Jupy. Meu pai vai é esculhambar com a história. Os espectadores vão sair do cinema apavorados. Aquele coroa é pirado, não sei como o Jornal de Brasília e a Rádio Nacional o aguentaram por tanto tempo.
Por ali, o Trévar encerrou o papo com os produtores cinematográficos, informando-os de que, pelos próximos dias, ele e a Jupy iriam visitar os templos budistas de Bangkoc e do Vietnam.
- Vietnam! Temos em nosso planos, pra médio-futuro, um filme sobre Ho Chi Minh – atalhou, a Barbara.
- Então, fique logo avisada de que, se precisar de ator e de uma Ho Chi Girl, vê se nos erra, tá? – pediu, a despachada Jupy.
FINAL ÀS 20h15 DE 21.03.2023 (terça-feira).